Fui
à estreia de um filme ontem à noite. Tapete vermelho. Lâmpadas de
flash. Festa depois. Duas festas depois. Pouco ouvi do que foi dito.
Gente demais. Quente demais. Na primeira festa, fui encurralado no
bar por um cara jovem com olhos muito redondos que nunca piscavam.
Não sei o que ele tinha tomado. Ou não tinha tomado. Muitas pessoas
estavam assim por ali. O cara estava com três garotas bem bonitas e
ele ficava me falando o tempo todo como elas gostavam de chupar pau.
As garotas apenas sorriam e diziam: “É sim!”. E toda a conversa
continuou desse jeito. Sem parar. Eu tentava adivinhar se era verdade
ou se estavam me enganando. Mas depois de um tempo me cansei daquilo.
Mas o cara continuava me pressionando, falando de como as garotas
gostavam de chupar pau. Seu rosto ia ficando cada vez mais perto e
ele continuava falando. Finalmente, estendi o braço, agarrei-o pela
camisa, com força, e o segurei assim e disse: “Escute, não
ficaria bem um cara de 71 anos tirar o seu couro na frente de toda
essa gente, ficaria?”. Daí, eu o larguei. Foi para outro lado do
bar, seguido por suas garotas. Não consegui entender nada.
Ilustração: Robert Crumb
Acho
que estou acostumado a me sentar num quartinho e fazer com que as
palavras tenha algum sentido. Já vejo o suficiente da humanidade nos
hipódromos, nos supermercados, nos postos de gasolina, nas estradas,
nos cafés etc. Não se pode evitar. Mas tenho vontade de me dar um
chute na bunda quando vou a festas, mesmo que a bebida seja de graça.
Nunca funciona comigo. Já tenho argila suficiente para brincar. As
pessoas me esvaziam. Preciso sair para me reabastecer. Sou o que é
melhor para mim, sentado aqui atirado, fumando um baseadinho e vendo
as palavras brilharem na tela. Raramente encontro uma pessoa rara ou
interessante. É mais que perturbador, é um choque constante. Está
me tornando um maldito mal-humorado. Qualquer um pode ser um maldito
mal-humorado, e a maioria é. Socorro!
Só
preciso de uma boa noite de sono. Mas antes, nunca uma maldita coisa
para ler. Depois que você lê uma certa quantidade de literatura
decente, simplesmente não há mais nada. Nós mesmos temos que
escrever. Não há entusiasmo. Mas espero acordar de manhã. E na
manhã em que eu não acordar, tudo bem. Não precisarei mais de
persianas, lâminas de barbear, programas dos páreos ou secretárias
eletrônicas. De qualquer forma, o telefone é, em geral, para minha
mulher. Os Sinos Não Dobram por Mim.
Dormir,
dormir. Durmo de barriga para baixo. Velho hábito. Vivi com mulheres
loucas demais. Tinha que proteger as partes privadas. Pena que o cara
da festa não me enfrentou. Estava a fim de chutar um traseiro. Teria
me alegrado imensamente. Boa noite.
Charles
Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio
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