terça-feira, 26 de dezembro de 2017

21/09/91 21:27

Fui à estreia de um filme ontem à noite. Tapete vermelho. Lâmpadas de flash. Festa depois. Duas festas depois. Pouco ouvi do que foi dito. Gente demais. Quente demais. Na primeira festa, fui encurralado no bar por um cara jovem com olhos muito redondos que nunca piscavam. Não sei o que ele tinha tomado. Ou não tinha tomado. Muitas pessoas estavam assim por ali. O cara estava com três garotas bem bonitas e ele ficava me falando o tempo todo como elas gostavam de chupar pau. As garotas apenas sorriam e diziam: “É sim!”. E toda a conversa continuou desse jeito. Sem parar. Eu tentava adivinhar se era verdade ou se estavam me enganando. Mas depois de um tempo me cansei daquilo. Mas o cara continuava me pressionando, falando de como as garotas gostavam de chupar pau. Seu rosto ia ficando cada vez mais perto e ele continuava falando. Finalmente, estendi o braço, agarrei-o pela camisa, com força, e o segurei assim e disse: “Escute, não ficaria bem um cara de 71 anos tirar o seu couro na frente de toda essa gente, ficaria?”. Daí, eu o larguei. Foi para outro lado do bar, seguido por suas garotas. Não consegui entender nada.

Ilustração: Robert Crumb 

Acho que estou acostumado a me sentar num quartinho e fazer com que as palavras tenha algum sentido. Já vejo o suficiente da humanidade nos hipódromos, nos supermercados, nos postos de gasolina, nas estradas, nos cafés etc. Não se pode evitar. Mas tenho vontade de me dar um chute na bunda quando vou a festas, mesmo que a bebida seja de graça. Nunca funciona comigo. Já tenho argila suficiente para brincar. As pessoas me esvaziam. Preciso sair para me reabastecer. Sou o que é melhor para mim, sentado aqui atirado, fumando um baseadinho e vendo as palavras brilharem na tela. Raramente encontro uma pessoa rara ou interessante. É mais que perturbador, é um choque constante. Está me tornando um maldito mal-humorado. Qualquer um pode ser um maldito mal-humorado, e a maioria é. Socorro!
Só preciso de uma boa noite de sono. Mas antes, nunca uma maldita coisa para ler. Depois que você lê uma certa quantidade de literatura decente, simplesmente não há mais nada. Nós mesmos temos que escrever. Não há entusiasmo. Mas espero acordar de manhã. E na manhã em que eu não acordar, tudo bem. Não precisarei mais de persianas, lâminas de barbear, programas dos páreos ou secretárias eletrônicas. De qualquer forma, o telefone é, em geral, para minha mulher. Os Sinos Não Dobram por Mim.
Dormir, dormir. Durmo de barriga para baixo. Velho hábito. Vivi com mulheres loucas demais. Tinha que proteger as partes privadas. Pena que o cara da festa não me enfrentou. Estava a fim de chutar um traseiro. Teria me alegrado imensamente. Boa noite.
Charles Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio

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