Ao
nascer a menina, os pais debateram longamente o nome que iriam
dar-lhe. Como não chegassem a entendimento, decidiram abrir ao acaso
o dicionário, e a palavra mais bonita que fosse encontrada na página
seria a eleita.
Por
isso ela se chamou Oréade. Os pais explicaram às pessoas curiosas
que se tratava de ninfa, habitante dos bosques, talvez de Viena, e
das montanhas, possivelmente do Sul de Minas. E todos acharam lindo
este nome.
Oréade
cresceu igualmente linda, mas sua beleza tinha alguma coisa de
vegetal, que começava nos olhos verdes, de um verde-musgo, e
continuava na doce penugem dos braços, característica de certas
folhas amáveis ao tato. Oréade tinha jeito de árvore e de água;
seu sorriso era úmido, lembrava a transparência das fontes.
A
moça não tinha mor encanto por festas, embora a alegria se
estampasse em suas feições. Preferia caminhar a esmo pelas estradas
em torno da cidade, subir aos morros, e lá em cima se quedava
escutando a música dos passarinhos e outras vozes naturais.
Uma
tarde ela não voltou do passeio. Por mais que a procurassem noite
afora, e nos dias seguintes, não foi encontrada. Apareceu meses
depois de manhãzinha, para uma visita que disse ser breve, e
apresentou um fauno a seus pais:
— Meu
marido.
Eles
compreenderam imediatamente que o nome da filha não fora escolhido
por força do dicionário, mas de um destino impreterível.
Abençoaram a união, e o casal voltou para a serra do Encantamento.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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