Julgar os discursos dos homens através
dos efeitos que produzem equivale frequentemente a apreciá-los mal.
Tais efeitos, para além de nem sempre serem sensíveis e fáceis de
conhecer, variam infinitamente, tal como as circunstâncias em que
esses discursos são proferidos.
A intenção daquele que os profere,
porém, é a única que permite apreciá-los e que determina o seu
grau de malícia ou de bondade. Proferir afirmações falsas só é
mentir quando existe intenção de enganar, e mesmo essa intenção,
longe de se aliar sempre à de prejudicar, tem por vezes um objetivo
oposto. Todavia, para tornar inocente uma mentira, não basta que a
intenção de prejudicar não seja expressa, é necessário também
ter a certeza de que o erro em que se induz aqueles a quem se fala
não poderá prejudicá-los a eles nem a ninguém, seja de que
maneira for. É raro e difícil ter-se essa certeza e, por isso, é
difícil e raro que uma mentira seja perfeitamente inocente.
Jean-Jacques Rousseau, in Os
devaneios do caminhante solitário
Nenhum comentário:
Postar um comentário