Traduzo
um trecho de um artigo de Struthers Burt sobre a irrealidade do
realismo.
“Existe
essa coisa como realismo no escrever, ou em outra espécie de arte, e
o realismo em arte é possível? Não será a palavra ‘realismo’
em si mesma uma contradição quando aplicada a qualquer forma de
arte, quer forma de expressão humana consciente e controlada?
Pode-se também dizer que essa palavra está em contradição quando
aplicada mesmo na suposta descrição de fatos numa coluna de jornal
ou numa reportagem. O que é arte? Será a expressão humana
consciente, controlada e dirigida em todas as suas miríades de
manifestações, em nível alto ou baixo, movimentado ou parado, com
ou sem valor, permanente ou efêmero? E o que é realismo? “Esta é
uma pergunta grande, porque o que nós estamos perguntando é o que é
a vida? E tendo decidido – o que não conseguimos – estamos
fazendo a nós mesmos uma pergunta igualmente grande. Qual é a
relação entre a arte e a vida? Qual a conexão? o cordão
umbilical? E por que a arte pula da vida? e quase no mesmo tempo? e
inevitavelmente? Porque nada é mais claro, ou mais provado pela
História e pela Antropologia, que o homem, mal começa a sê-lo,
exibe a urgência de se exprimir artisticamente. Não estava
satisfeito com a forma das coisas como são, e começava a moldá-las
cruamente. Depois de um tempo – em comparativamente o pequeno
espaço de algumas centenas de milhares ou milhões de anos –
tornou-se bastante bom, começou a pintar em paredes, a escavar
intricados desenhos em ossos.”
Clarice
Lispector, in A descoberta do mundo
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