As
mães que já o eram antes de ser instituído o Dia das Mães não se
importam muito com ele, e até dispensam homenagens sob esse
pretexto. Mas as que cumpriram a maternidade após a sua criação
pensam de outro modo, e amam a data.
Edwiges,
mãe recente, com filho de ano e meio de idade, não tinha quem
celebrasse o seu Dia, pois a criança estava longe de poder fazê-lo.
Comprar
para si mesma um presente não tinha graça, e além do mais não
havia dinheiro para isso. Aderir à festa das outras mães, que
tinham filhos grandes e recebiam homenagens, era como furtar alguma
coisa, o que repugnava a Edwiges.
Adormeceu
e teve um sonho. O filho crescia velozmente diante de seus olhos e,
chegando aos dezoito anos, levava para ela o mais lindo ramo de
crisandálias e pequeno estojo de veludo.
Abriu-o
com sofreguidão e deparou com uma aliança em que estava gravado um
nome diferente do seu. Notando-lhe a surpresa, o filho pediu
desculpas. O anel era para a namorada, só as flores lhe pertenciam.
E saiu correndo com o estojo e o anel para entregá-los à moça.
Mãe
solteira, Edwiges ficou com as crisandálias o tempo daquele sonho.
Seu Dia das Mães consistiu em lembrar o sonho.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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