Era
uma lua tão pura que convidava à serenata, a menos que fosse a
serenata que, de tão divina, chamasse a lua. Luar e serenata
combinavam-se deliciosamente, mas de súbito Zeca Heliodoro depôs o
violão na calçada e desfechou três tiros no ar.
Zeca
era pacífico e não bebera. Os companheiros ficaram atônitos,
várias janelas se abriram assustadas, e a voz do prefeito ressoou na
noite:
— Se
querem me depor, estão muito enganados! Exercerei meu mandato até o
término legal!
E
passando da palavra à ação, o prefeito descarregou seu revólver a
esmo, pondo em fuga precipitada todos os seresteiros.
Menos
Zeca, imóvel na praça, inatingido pelos disparos e tentando
explicar, não ao prefeito, mas à sua filha Zulmira (invisível) que
a música era insuficiente para exprimir seu êxtase diante da jovem
e que, em certos momentos do coração, três tiros no ar valem por
uma salva de amor.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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