quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Afastamento da natureza

Tua alma e tudo que há de ígneo incorporado em ti, ainda que por natureza tendam a elevar-se, submetem-se aqui ao conjunto de que fazem parte, obedientes à disposição do universo. E também tudo que é de natureza térrea e aquosa, embora sua tendência seja cair mantém-se elevado e ocupa a posição que não é a de sua natureza. Assim, então, os elementos obedecem ao todo, pois desde que foram fixados em certo lugar permanecem ali por força, até o momento em que for dado novamente o sinal de dissolução. Não é iníquo, então que só a tua parte racional seja desobediente e proteste contra o lugar que lhe coube? E todavia nada lhe é imposto por força, mas somente o que é conforme à sua natureza; ela, porém, não se submete, mas é levada na direção oposta. Esse movimento no sentido da injustiça e intemperança e cólera e aflição e medo nada é senão um afastamento da natureza. E ainda quando a razão está descontente com algo que acontece, afasta-se também de seu próprio lugar, pois foi constituída para a piedade e religiosidade, não menos que para a justiça. Essas qualidades apresentam-se sob o aspecto de sociabilidade e são ainda mais respeitáveis que as ações justas.”
Marco Aurélio, in Meditações

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