Quando
o fogo exterior se retira pela noite, o fogo interior se encontra
separado dele; então, se sai dos olhos, cai sobre um elemento
diferente, se modifica e extingue, uma vez que deixa de ter uma
natureza comum com o ar que o rodeia, que já não tem fogo. Deixa de
ver, e conduz ao sono. Esses aparatos protetores da visão dispostos
pelos deuses, as pálpebras, quando se fecham freiam a força do fogo
interior. Este, por sua vez, acalma e aquieta os movimentos internos.
E assim que estes se tenham apaziguado, sobrevém o sonho; e se o
repouso é completo, um sono quase sem sonhos se abate sobre nós.
Por outro lado, quando subsistem em nós movimentos mais acentuados,
de acordo com sua natureza e segundo o lugar em que se encontrem,
dele resultam imagens de diversos tipos, mais ou menos intensas,
semelhantes a objetos interiores ou exteriores, e das quais
conservamos alguma lembrança ao despertar.
Platão, Timeo, XLV, em Livro dos Sonhos, de Jorge Luís Borges
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