quinta-feira, 14 de agosto de 2025

1580 – Buenos Aires

Os fundadores

Há cerca de meio século, um capitão espanhol se fez ao mar, em Sevilha, rumo a estas costas sem fama. Gastou na expedição toda a fortuna que tinha feito no saqueio a Roma.
Aqui fundou uma cidade, um forte rodeado de ranchos, e daqui perseguiu, rio acima, a serra da prata e o misterioso lago onde dorme o sol.
Dez anos antes, Sebastián Gaboto tinha buscado os tesouros do rei Salomão remontando este rio da Prata inocente de seu nome, que só tem barro em uma margem e areia na outra e conduz a outros rios que conduzem à selva.
Pouco durou a cidade de dom Pedro de Mendoza. Enquanto seus soldados se comiam entre si, loucos de fome, o capitão lia Virgílio e Erasmo e pronunciava frases para a imortalidade. Em pouco tempo, desvanecida a esperança de outro Peru, quis voltar à Espanha. Não chegou vivo. Depois veio Alonso Cabrera, que incendiou Buenos Aires em nome do rei. Ele, sim, pôde regressar à Espanha. Lá matou a mulher e terminou seus dias em um manicômio.
Juan de Garay chega agora de Assunção. Santa María de los Buenos Aires nasce de novo. Acompanham Garay uns quantos paraguaios, filhos de conquistadores, que receberam de suas mães guaranis o primeiro leite e a língua indígena que falam.
A espada de Garay, cravada nesta terra, desenha a sombra da cruz. Tiritam de frio e medo os fundadores. A brisa arranca uma música que range nas copas das árvores e mais além, nos campos infinitos, silenciosos espiam os índios e os fantasmas.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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