8.
Quando
há pranchas sobre a água, quando passarelas e parapeitos se erguem
sobre a corrente: então ninguém acredita, em verdade, naquele que
diz: “Tudo flui”.
Pelo
contrário, até os imbecis o contradizem. “Como”, dizem eles,
“tudo flui? Passarelas e parapeitos estão acima do que
flui!”
“Acima
do que flui está tudo firme, todos os valores das coisas, pontes,
conceitos, todo o ‘bem’ e o ‘mal’: tudo isso está firme!”
—
Mas,
quando vem o duro inverno, o domador de rios, até mesmo os mais
espirituosos aprendem a desconfiar; e, em verdade, não apenas os
imbecis falam então: “Não deveria tudo — ficar parado?”.
“No
fundo está tudo parado” — eis um verdadeiro ensinamento
invernal, uma boa coisa para tempos infecundos, um bom consolo para
os que hibernam e ficam junto à estufa.
“No
fundo está tudo parado” —: mas contra isso prega o vento
do degelo!
O
vento do degelo, um touro que não é boi de arado — um touro
raivoso, um destruidor, que com chifres furiosos rompe o gelo! Mas o
gelo — — rompe passarelas!
Ó
meus irmãos, agora não se acha tudo a fluir? Não foram por
água abaixo todos os corrimãos e passarelas? Quem ainda se
agarraria a “bem” e “mal”?
“Ai
de nós! Viva nós! O vento do degelo sopra!” — Assim pregai, ó
meus irmãos, por todas as ruas!
Friedrich Nietzsche, em Assim falou Zaratustra
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