Quando
a avó trocou o coração por um electrodoméstico, continuou amando.
Estava tão acostumada, fazia já do amor uma coisa plenamente
racional. Amava por lucidez. Ela dizia: amar é saber.
E
dizia: amar é melhorar.
Tantas
vezes me repreendeu quando rabujei ou abreviei um abraço. Ordenava
apenas: melhora, rapaz. Melhora.
O
meu avô, ao contrário, era um homem de oficina. Para ele, a vida
era uma tarefa. Havia que cumprir, plantar, colher, assear, ter
modos, manter o silêncio, poupar palavras.
Usava
todas as distâncias e fugas. A maioria das vezes, só a minha avó o
encontrava, metido em lugarejos debaixo das árvores, por onde ia
fazer cálculos e afiar foices. Dava-se com os cães. Todos um pouco
ferozes. Dormiam também ao sol a sossegar.
[...]
Valter Hugo Mãe, em Serei sempre o teu abrigo
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