No
começo de sua carreira, o analista de Bagé também era chamado para
atender casos a domicílio. Como na vez em que um peão foi chamar o
analista no meio da noite. Era para o seu patrão, seu Vespasiano.
Enquanto encilhava o cavalo, o analista de Bagé pediu detalhes sobre
o caso. O peão contou que seu Vespasiano tava variando.
– Pensa
que é metade gente, metade animal.
– Que
animal?
– Cavalo.
– Que
pêlo?
– Castanho.
– Que
metade?
– A
de baixo.
– Bueno.
Pelo menos vou poder charlar com o homem.
Chegaram
na estância quase de manhãzinha. Seu Vespasiano já estava de pé,
mastigando seu milho. Recebeu o analista de Bagé com desconfiança.
– Que
lê traz aqui?
Pôs
vim olhar a sua tropa. Um cavalo meu desgarrou pra estas bandas.
– E
tu cria cavalo no consultório, tchê?
– Tem
cliente que só a patada.
– Pôs
seu cavalo não ta aqui.
– Só
vendo.
Saíram
para o campo. O analista de Bagé a cavalo e o seu Vespasiano
galopando do seu lado. Olharam toda a tropa. Aí o analista começou
a examinar seu Vespasiano de cima a baixo.
– Tá
me olhando por quê? – quis saber seu Vespasiano, carrancudo.
– Acho
que to reconhecendo meu castanho.
– Endoidou?
Eu sou o Vespasiano.
– Só
até a cintura.
– Pra
baixo também é meu.
– Então
mostra a marca.
– O
quê?
– Quero
ver a marca na anca. Se não ta marcado, é meu.
A
discussão ainda durou um pouco, mas no fim seu Vespasiano se
convenceu que não era metade cavalo. Lamentou bastante porque
daquele jeito estava economizando montaria. Mas a família suspirou
aliviada. Não aguentava mais a bosta no tapete.
Luís Fernando Veríssimo, em O analista de Bagé
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