A
partir dos afro-sambas que fez com Baden Powell, no início dos anos
1960, o carioca e “branco mais preto do Brasil” foi virando
baiano. Até se mudar de mala e cuia para uma casa na praia de Itapuã
com sua nova mulher, a baiana Gessy Gesse, numa temporada que
inspirou a criação de um dos seus maiores sucessos na parceria com
o violonista paulistano Toquinho. A letra hedonista é um
autorretrato do artista maduro curtindo a vida e o amor: “Um velho
calção de banho / um dia pra vadiar…”
Em
maio de 1969, cinco meses após o AI-5, Vinicius foi aposentado
compulsoriamente do Itamaraty – o que, de certa forma, facilitou a
sua vida de artista, a qual passou a exercer plenamente. Com 56 anos,
ele se livrou de vez dos ternos, das exigências e dos protocolos da
carreira diplomática para ser artista e para continuar sendo um
eterno adolescente em sua vida amorosa, largando tudo e se
reinventando a cada nova paixão. Seu sétimo casamento, com a baiana
Gessy, 26 anos mais nova, levou-o à Bahia e ao candomblé, e, por
algum tempo, a casa na praia de Itapuã virou seu porto seguro quando
não estava navegando pelos palcos.
Na
verdade, Vinicius pouco desfrutou da idílica Itapuã. Em boa parte
graças ao trabalho iniciado em 1970 com Toquinho, seu derradeiro
parceiro fixo, a última década de vida do poeta foi de intensa
atividade e muitas viagens. Violonista virtuoso e compositor de
talento, Toquinho (Antonio Pecci Filho, 1946) virou o seu fiel
escudeiro em discos e shows, dos circuitos universitários no
interior do Brasil aos clubes, bares e teatros da Argentina, do
Uruguai, de Portugal e da Itália. Em turnês na base de dois
banquinhos e algumas doses de uísque, com o violão e a voz de
Toquinho e uma cantora – Marilia Medalha ou Maria Creuza foram as
mais frequentes –, Vinicius fez mais de 1.000 shows, até sua morte
aos 67 anos.
O
casamento musical com Toquinho rendeu mais de 100 canções, entre
elas “A tonga da mironga do cabuletê”, “Regra três”, “Meu
pai Oxalá”, “Testamento” e “Tarde em Itapuã”, que foi uma
das primeiras, abrindo o álbum Como dizia o poeta…, de
Toquinho, Vinicius e Marilia Medalha, lançado em 1971. Inicialmente,
Vinicius escreveu a letra para ser musicada por Dorival Caymmi, mas,
ajudado pela preguiça de Caymmi, o novato insistiu, trabalhou dois
meses na composição e conquistou definitivamente o parceiro
consagrado.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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