Porque
é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem
a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim,
em primeiro lugar, porque é mais cômodo, pois a mentira exige
invenção, dissimulação e memória. Por isso Swift diz: “Quem
conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma
sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras
vinte”. Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é
vantajoso dizer diretamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas
parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é
mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido
educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a
mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre
aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma
repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e
inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência.
Friedrich
Nietzsche, in
Humano, demasiado humano
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