Stephen
Hawking tem sido comparado ao Dr. Strangelove, o monstro do clássico
filme de Kubrick. E existe mais do que a óbvia ligeira semelhança.
É claro que Hawking não é nenhum nazista dominado pela angústia.
No entanto, aqueles que trabalharam com ele dão conta de uma
intensidade semelhante de energia intelectual reprimida. O Dr.
Strangelove era uma paródia da vontade de poder — mas de um tipo
complexo, perspicaz, quase sempre cerebral. Ao mesmo tempo,
Strangelove era também totalmente humano, possuído por sentimentos
fortes e fraquezas humanas — que sua condição de paralítico nada
fazia para minorar. Hawking sempre insistiu em que ele também
deveria ser visto como um ser humano normal e suas atitudes
justificaram plenamente essa reivindicação.
No
filme, nunca se vê o gabinete de Strangelove. Se alguma locação
tivesse sido necessária, o gabinete de trabalho de Hawking em
Cambridge teria sido a escolha ideal — com sua silenciosa aura de
concentração quebrada apenas pelo tique-taque do mecanismo acionado
pelo protagonista prisioneiro da cadeira de rodas. Ao seu redor,
telas de computador, um espelho a partir do qual seu rosto atento
responde ao olhar do interlocutor e grandes pôsteres de Marilyn
Monroe, olhando fixamente das paredes.
Essa
mente isolada do mundo sente-se em casa nas distâncias remotas do
universo. Ela produziu algumas das mais estimulantes reflexões
cosmológicas de todos os tempos. Toda a nossa imagem do cosmo
transformou-se drasticamente durante a era Hawking. O cenário que
ele e seus colegas traçaram é tão criativo e belo quanto uma
grande obra de arte. É também tão “impossível” quanto um
sonho e de uma complexidade que excede, em muito, a compreensão
cotidiana. Hawking formulou novas e sensacionais ideias sobre os
buracos negros, a “Teoria de Tudo” e a origem do universo.
Tudo
isso, no entanto, tem sido questionado. A cosmologia é o estudo do
universo — mas será de fato ciência? (Apesar de toda a sua
diabólica matemática, grande parte dela não pode ser provada.)
Será a cosmologia, de alguma forma, significativa ou útil? Ou será
como um conto de fadas, tão relevante para nossas vidas quanto as
artimanhas dos antigos deuses gregos? As realizações de Hawking
podem ser vistas como seminais para nosso entendimento da própria
vida ou como um vasto empreendimento intelectual repleto de som e
fúria, mas sem significado algum.
Paul
Strathern, in Hawking e os Buracos Negros em 90 minutos
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