segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Sobre a Tranquilidade da Alma

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1. Supõe, porém, que a sua vida se tornou cheia de problemas e que, sem saber o que estava fazendo, caiu em alguma armadilha que a Fortuna pública ou privada lhe armou, e que não pode desamarrá-la nem quebrá-la: então, lembre-se de que os homens presos sofrem muito, a princípio, por causa dos fardos e das obstruções nas pernas: depois, quando se decidem a não se preocupar com elas, mas a suportá-las, a necessidade os ensina a suportá-las com bravura e o hábito em suportá-las com facilidade. Em cada estação da vida você encontrará diversões, relaxamentos e prazeres; isto é, desde que esteja disposto a fazer dos males mais leves ao invés de odiosos.
2. Sabendo a que tristezas nascemos, nada há pelo qual a Natureza mais mereça nosso agradecimento do que ter inventado o hábito como alívio do infortúnio, o qual logo nos acostuma aos mais severos males. Ninguém poderia resistir ao infortúnio se exercessem permanentemente a mesma força que no início.
3. Estamos todos acorrentados à Fortuna: a corrente de alguns homens é frouxa e feita de ouro, a de outros é apertada e de metal mais mesquinho: mas que diferença isso faz? Estamos todos incluídos no mesmo cativeiro, e mesmo aqueles que nos amarraram estão amarrados a si mesmos, a menos que você pense que uma corrente do lado esquerdo é mais leve de suportar: um homem pode estar amarrado por um cargo público, outro pela riqueza: alguns têm de suportar o peso da nobreza, alguns de um nascimento humilde: alguns estão sujeitos às ordens de outros, alguns apenas às suas próprias: alguns são mantidos em um lugar, sendo banidos para lá, outros, sendo eleitos para o sacerdócio. Toda vida é escravidão:
4. Que cada homem se reconcilie com a sua sorte, reclame dela o mínimo possível, e se agarre a qualquer bem que esteja ao seu alcance. Nenhuma condição pode ser tão miserável que uma alma imparcial não possa encontrar nela compensações. […]

Sêneca, em Sobre a Tranquilidade da Alma

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