Não
é que a gente queira debochar. Obrigam-nos a isso. Quando um
marmanjo, pago com nosso dinheiro, envolvido em operações escusas,
escolhe para si mesmo (ou escolhem para ele) o codinome Flecha
Dourada, sinto que é minha obrigação esculhambar ao máximo os
celebrantes desse carnaval mórbido.
Imagino
uma reunião para resolver códigos e nomes de guerra.
Flecha
Dourada coloca languidamente o cigarro na piteira de madrepérola:
– Que
tal “Operação Dragão’?
– Nooo-oo-ssa!
Aquele bicho nojento que aparece de coadjuvante do santo em medalinha
de suburbano?! Detestei!
– Pobreza!
– Nenúfar
Tresloucado, quer parar de cortar esse molde e dar uma ideia?
– Hii,
não implica com o meu molde, tá!? Foi feito por mim!
– Desculpe,
rião precisa se ofender. “Dragão" tá bom pra você?
– De
jeito nenhum! Isso é uma operação séria ou alegoria do Joãozinho
Trinta? “Dragão” é cafonérrimo, prefiro “Branca de Neve e os
Sete Asnões”.
– Anões,
sua louca.
– Vai
por mim, querida: bota Asnões mesmo. Sempre acaba em burrada...
– Vou
telefonar pro salão e pedir uma dica pra Surucucu de Valisére.
– Não
está no Brasil. Foi fazer um curso de aperfeiçoamento no Chile.
– Que
zumbido horroroso é esse?
– Se
for marimbondo de fogo, juro que eu me atiro pela janela.
– E
porão tem janela, filho? Desencanta!
– Não
se trata de nenhum inseto incendiário, gente. O zumbido é do nosso
rádio.
– Ai,
que tédio! Deve ser o Uirapuru Metaleiro falando em traineira. Só
tem esse assunto.
– Bota
na FM, depressa!
– Chamando
Flecha Dourada. Câmbio. BZZZZ.
– Virgem
Maria! Pelo barulho, deve ser o Kid Abelha...
– Responde
logo, Flechinha.
– Aqui,
ó! Não é minha função. Chama o responsável pelas comunicações.
– Então
deu estática, neguinha. Mandacaru Soft baixou enfermaria.
– BZZZZZZ.
Responda, Flecha Dourada. Câmbio.
– Passarei
a usar o código D.O., tá? Mensagem top secret. Câmbio.
– Prossiga.
Câmbio.
– Teu
mal foi comentar o passado. Ninguém precisa saber sobre o que houve
entre nós dois. O peixe é profundo das redes, segredo é pra quatro
paredes. Câmbio.
– E
o lencinho branco que esqueceste? Câmbio.
– Uma
remota batucada. Câmbio.
– Sua
voz habitual não ouvi dizer bom dia. Câmbio.
– Foi
o ciúme que se debruçou sobre o meu coração.
Câmbio.
– E
a lua anda tonta? Câmbio.
– Estão
voltando as flores... Câmbio.
– Bandeira
branca, amor? Câmbio.
– Tudo
acabado entre nós. Já não há mais nada.
Desligo.
– Qual
o significado da mensagem?
– Foi
usado o código D.O. Sigilo total.
– D.O.
quer dizer Dificuldade Orientada?
– Claro
que não! D.O. é a tua, a minha, a nossa Dalva de Oliveira! A base
do código é o repertório dela. A mensagem significa: o jornalista
falou demais. Afundem-no. Possibilidades de deixar pistas são
remotas. Fazer parecer crime passional. Situação melhorando para
nós, mas devemos fingir que não temos mais função na Nova
República, santa.
– Ufa!
Tô morta.
– Não
fala assim que atrai, garota.
– Precisava
de uma boa sauna pra relaxar.
– Boa
ideia! Vamos passar na Escola Superior antes pra uns camparis.
*
* *
– Chega
a dar saudade do tempo em que Raposa Vermelha chamava Urso Branco e
surravam juntos os boches, né?
Aldir Blanc, em Brasil passado a sujo
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