domingo, 15 de dezembro de 2024

1553 | Tucapel

Lautaro

A flecha da guerra percorreu todas as comarcas do Chile.
Chefiando os araucanos ondeia a capa vermelha de Caupolicán, o cíclope de braços capazes de arrancar as árvores com raiz e tudo.
Avança a cavalaria espanhola. O exército de Caupolicán se abre em leque, deixa-a entrar e em seguida se fecha e a devora pelos flancos.
Valdívia envia o segundo batalhão, que se arrebenta contra uma muralha de milhares de homens. Então ataca, seguido por seus melhores soldados. Avança gritando a toda carreira, lança na mão, e os araucanos se desmoronam ante sua ofensiva fulminante.
Enquanto isso, à frente dos índios que servem ao exército espanhol, Lautaro aguarda sobre uma colina.
Que covardia é esta? Que infâmia de nossa terra?
Até este instante, Lautaro foi o pajem de Valdívia. À luz de um relâmpago de fúria, o pajem escolhe a traição, escolhe a lealdade: sopra o corno que leva cruzado no peito e a galope se lança ao ataque. Abre caminho a golpes, partindo couraças e ajoelhando cavalos, até que chega a Valdívia, olha-o na cara e o derruba.
Não cumpriu vinte anos o novo caudilho dos araucanos.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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