Lautaro
A
flecha da guerra percorreu todas as comarcas do Chile.
Chefiando
os araucanos ondeia a capa vermelha de Caupolicán, o cíclope de
braços capazes de arrancar as árvores com raiz e tudo.
Avança
a cavalaria espanhola. O exército de Caupolicán se abre em leque,
deixa-a entrar e em seguida se fecha e a devora pelos flancos.
Valdívia
envia o segundo batalhão, que se arrebenta contra uma muralha de
milhares de homens. Então ataca, seguido por seus melhores soldados.
Avança gritando a toda carreira, lança na mão, e os araucanos se
desmoronam ante sua ofensiva fulminante.
Enquanto
isso, à frente dos índios que servem ao exército espanhol, Lautaro
aguarda sobre uma colina.
– Que
covardia é esta? Que infâmia de nossa terra?
Até
este instante, Lautaro foi o pajem de Valdívia. À luz de um
relâmpago de fúria, o pajem escolhe a traição, escolhe a
lealdade: sopra o corno que leva cruzado no peito e a galope se lança
ao ataque. Abre caminho a golpes, partindo couraças e ajoelhando
cavalos, até que chega a Valdívia, olha-o na cara e o derruba.
Não
cumpriu vinte anos o novo caudilho dos araucanos.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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