Regina
tem 82 anos de idade, e mora sozinha no seu minúsculo apartamento.
Ninguém a chama de Dona Regina, nem crianças, nem adultos nem
velhos: é Regina mesmo. Vai diariamente à beira da praia, e num
banco se senta para tomar sol e ar livre. Apesar de ser um
passarinho, tem dias que acorda de mau humor. Um dia desses estava
sentada no banco e Alfredo, um menino amigo dela, convidou-a:
“Regina, vamos brincar?”; não respondeu. O menino repetiu o
convite. Então ela, com a voz débil de quem ainda não falou com
ninguém naquele dia, resmungou qualquer coisa bem baixinho. Alfredo
virou-se para a mãe, que estava perto, e disse, desolado: “Mamãe,
Regina hoje está com as pilhas fracas!”
De
vez em quando Regina escreve numa folha de papel alguma coisa, sem
intuito de divulgação ou laivos de publicação. Mantém um diário.
Certa
manhã uma vizinha do mesmo edifício passeava pela calçada da
praia, empurrando o seu carrinho de bebê. O olhar da moça se cruzou
um instante com o de Regina, e a moça lhe sorriu. Regina lhe deu de
volta um levíssimo sorriso.
Quando
a moça voltou para casa, encontrou, passada pela soleira da porta de
seu apartamento, uma folha de papel.
Era
um bilhete. Que assim dizia: “Obrigada pelo sorriso. Regina.”
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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