Meu
nome é Frank Drebin. Sou tenente aposentado do Esquadrão da Polícia
e dizem que me pareço, apenas fisicamente, com o ator Leslie
Nielsen.
Quando
deixei a ativa, tive uma forte depressão por não ter o que fazer,
uma espécie de nostalgia dos bons tempos de combate ao crime
organizado. Meu médico me aconselhou a procurar um “derivativo”,
ou seja, ocupação semelhante ao do meu antigo job: guarda de
segurança, agente penitenciário, traficante etc. Como os criminosos
que se dão bem in my country costumam vir pro Brasil, resolvi
segui-los até aqui, Confesso que me sinto em casa. Bang!
Não
lembro bem o dia em que o terrível mal-entendido começou. Sei que
era de manhã e eu tinha acabado de pular por cima dos corpos de
turistas assassinados no saguão do meu hotel. Dentro do elevador
também havia um presunto. Resolvi ir pelas escadas. Fui sequestrado
no 3° andar. Colocaram um capuz em minha cabeça e me conduziram na
garupa de uma moto até o helicóptero. Estranho. Após alguns
minutos de voo, mudei de aeronave. Fui amarrado no acento de um avião
privativo das Forças Armadas. Sei que pousamos em Brasília pelo
comentário do piloto: “Detesto essa merda”.
Em
terra, me atiraram na parte de trás de um furgão. Senti que me
conduziam à presença do chefe. Minha surpresa, ao arrancarem o
capuz, quase me custou a vida:
– Shit!
Um
brutamontes ameaçou dar um chute na minha cara, mas o Tuma impediu.
Sim, era ele mesmo, em carne e bigode. Um cara afável.
– Oi,
Frank. Desculpe o mau jeito. Medidas de segurança. Você foi do ramo
e entende nosso problema.
– Esquece,
Tuma. Em que posso ser útil?
– Gostaria
que você auxiliasse nosso pessoal numa pequena operação. Como
intérprete. Pode haver ti-ti-ti diplomático.
– Oquêi!,
Rô-Rô, tamos aí.
– Good,
Frank. Mas me faz um favor...
– É
só pedir, Rô-Rô.
– Não
me chama de Rô-Rô, porra!
O
brasileiro gosta de informalidade, mas convém não exagerar. Acendi
a boca e falei pelo canto do cigarro:
– Paraguai
de novo?
– Não.
Desta vez é coisa grande. Mas muito, muito delicado. Por isso
pensamos em você.
Fiz
um gesto de “ora” e derrubei uma jarra no colo de um coronel do
Serviço Secreto.
– Frank,
nós descobrimos onde estão os dólares do sequestro do Medina.
Engoli
seco.
– Pense,
Frank. De Medina você vai a
– Meca!
– Exato,
Frank. É isso aí. Ligamos pro nosso aliado no Iraque e montamos uma
operação de despiste para chegar até a Arábia Saudita. Tudo foi
planejado de maneira a provocar um risco zero de repercussão
internacional. O Rezeck tem dúvidas, mas você sabe como são esses
almofadinhas. Contamos com seu tato, Frank.
– Serei
sutil como nunca.
– A
senha, Frank, é Kuwait a minute.
– Bem
bolado, Rô... excuse me!
– E,
Frank: nada de escândalo.
No
Iraque, fui encontrar Saddam, que nós chamávamos de Bush’s Boy,
no Golfo Gala Gay. A senha era fácil. Fantasiado de Carmen Miranda
estilizada eu deveria cantar:
– Mulata
bossa-nova caiu no hully-gully...
Saddam,
de odalisca, completaria:
– ...
E só dá ela...
Os
dois, pulando feito loucas:
– ...
Naaa passarela!
Seguimos
rigorosamente as instruções do Tuma.
O
bombardeio a Bagdá começou no dia seguinte. Tenho passado horas
tentando enxergar onde foi que nós erramos. Shit.
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo
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