Gravada
em 1971 por Joyce, num compacto com o grupo A Tribo, formado por
Nelson Ângelo, Naná Vasconcellos, Toninho Horta e Novelli, e logo
depois por Elis Regina, “Nada será como antes” entrou no mundo
das canções eternas no álbum duplo Clube da Esquina, em
1972. Ela é uma das muitas preciosidades lapidadas por Milton
Nascimento com Ronaldo Bastos (1948), um carioca nascido em Niterói
que integrou, ao lado de Fernando Brant e Márcio Borges, a
fundamental troika de parceiros que o carioca mais mineiro do mundo
alternou na sua carreira luminosa. Durante a década de 1970, no
período mais intenso da dupla, Milton e Ronaldo também assinaram
“Cais”, “Fé cega, faca amolada”, “Cravo e canela” e
“Circo Marimbondo”.
Com
sua pegada pop, a música revelava o amor de Milton e seus parceiros
pelos Beatles e companhia, que eram execrados pela MPB ortodoxa da
época. A letra de Ronaldo refletia o turbulento período político
que o Brasil atravessava, com a repressão aterrorizando a juventude
e o perigo escondido em cada esquina, quando a vida na estrada passou
a ser uma opção para tantos jovens insatisfeitos com o estado de
coisas. A outra era cair na clandestinidade e na luta armada.
Além
das possíveis esperanças da estrada, premonitoriamente, a canção
também parecia anunciar que nada mais seria igual na música
brasileira após o álbum duplo feito por Milton Nascimento & Lô
Borges e quase duas dezenas de compositores, arranjadores e
intérpretes, que entrou para a história como Clube da Esquina.
Uma reunião informal de amigos e talentos que, sem planos, receitas
ou restrições culturais, misturou samba, jazz, rock, bolero,
abrindo uma riquíssima terceira via para a música brasileira, que
seria uma das mais influentes nas décadas seguintes.
O
sucesso de “Nada será como antes” mostrou sua perfeita sintonia
com o momento, e logo a canção também começou a ser reconhecida
fora do Brasil. Inicialmente entre os músicos de jazz, que adotaram
a versão para o inglês de Rene Vincent, “Nothing Will Be As It
Was”, lançada no álbum Milton (1976), gravado em Los
Angeles, ao lado de Wayne Shorter, Herbie Hancock, Hugo Fattoruso e
Airto Moreira. E seguiu com o pé na estrada, nas vozes jazzísticas
de Sarah Vaughan, Flora Purim e Tânia Maria.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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