Soluços,
lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio
vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão,
essa, tocheiros, convites, convidados que entravam. Lentamente, a
passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos
sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões d'água
benta, o fechar do caixão a prego e martelo, seis pessoas que o
tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, não
obstante os gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão
até o coche fúnebre, e o colocam em cima e traspassam e apertam as
correias, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um... Isto que
parece um simples inventário, eram notas que eu havia tomado para um
capítulo extremamente suculento, em que provava que a terra deve
continuar a girar em volta do sol; porquanto: – a) a natureza não
inventou a morte, senão com o fim de dar vida a algumas indústrias
– armadores, segeiros, empresas funerárias, tipografias, e outras
que ela sagazmente previu; – b) mortas essas indústrias, pela
ausência da morte humana, não é improvável que viessem a morrer
os respectivos industriais; o que dava na mesma. Mas tudo isto são
apenas notas de um capítulo que não escrevo.
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
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