Positivamente,
era um diabrete Virgília, um diabrete angélico, se querem, mas
era-o, e então...
E
então apareceu o Lobo Neves, um homem que não era mais esbelto que
eu, nem mais elegante, nem mais lido, nem mais simpático, e todavia
foi quem me arrebatou Virgília e a candidatura, dentro de poucas
semanas, com um ímpeto verdadeiramente cesariano. Não precedeu
nenhum despeito; não houve a menor violência de família. Dutra
veio dizer-me, um dia, que esperasse outra aragem, porque a
candidatura de Lobo Neves era apoiada por grandes influências. Cedi;
e tal foi o começo da minha derrota. Uma semana depois, Virgília
perguntou ao Lobo Neves, a sorrir, quando seria ele ministro.
– Pela
minha vontade, já; pela dos outros, daqui a um ano.
Virgília
replicou:
– Promete
que algum dia me fará baronesa?
– Marquesa,
porque eu serei marquês.
Desde
então fiquei perdido. Virgília comparou a águia e o pavão, e
elegeu a águia, deixando o pavão com o seu espanto, o seu despeito,
e três ou quatro beijos que lhe dera. Talvez cinco beijos; mas dez
que fossem não queria dizer coisa nenhuma.
O
lábio do homem não é como a pata do cavalo de Atila, que
esterilizava o solo em que batia; é justamente o contrário.
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
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