Quando
chovia, meu pai gostava de se assentar num tamborete, fumando seu
cachimbo, à janela da cozinha da casa velha. Os tomateiros, hortelãs
e manjericão exalando seus perfumes. As folhas de couve e espinafre,
brincando de juntar gotas de água, redondas e brilhantes. As árvores
e os arbustos executando seus passos de dança, balançando as folhas
sob os pingos que caíam.
Olhava,
sorria, soltava uma baforada e dizia: “Veja como estão
agradecidas...” .
Como
se cada ervinha se parecesse com ele e tivesse, secretamente, alegria
de viver. Daí sua gratidão vegetal. Diz o capítulo 6 do livro do
profeta Isaías que, no momento em que teve sua visão, o templo se
encheu de fumaça. Pergunto-me se o profeta não estaria baforando
seu cachimbo... A fumaça é um poderoso alucinógeno.
Rubem Alves, in O velho que acordou menino
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