quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

A menina-nariz

Numa certa cidade vivia uma menina muito bonita chamada Nina. Ela tinha cabelos dourados e encaracolados, olhos grandes e azuis como o mar, um nariz enorme e maravilhosos dentes brancos. Quando ela sorria, era como se o sol brilhasse. Quando ela chorava, era como se pérolas caíssem. A única coisa que a estragava era o nariz grande. Uma vez, Nina juntou todo o dinheiro que tinha e foi até o médico. Ela disse:
Não tenho ninguém nesta cidade, eu me sustento sozinha, meu pai e minha mãe moram longe e eu não posso pedir dinheiro, eles não são ricos. Aqui está todo o meu dinheiro. Faça um nariz pequeno para mim! Quando eu nasci, meus pais cometeram um erro e não convidaram um velho feiticeiro que vivia na floresta para a festa. Quando ele ficou sabendo que não tinha sido chamado, ficou muito ofendido e disse que me daria um presente muito importante e valioso. E desde então meu nariz começou a crescer. Quando meus pais foram perguntar para o feiticeiro, ele disse que, se eu tivesse um nariz pequeno e me tornasse uma bela mulher, qualquer cafajeste se apaixonaria por mim; já desse jeito, só uma pessoa no mundo se apaixonaria por mim. E depois ele disse para meus pais: “Vejam vocês! Vocês são pessoas normais, feias, nunca se preocuparam com seus narizes!”. Meus pais responderam: “Mas nossa filha seria linda, coitada!”. Mas o mago não fez nada por mim. Agora eu cresci, trabalho como cabeleireira, sou uma boa profissional, tenho fila de espera. Mas não sou feliz.
O médico disse para ela:
Aqui não posso fazer nada. Vá para outra cidade, lá mora um mago, talvez ele te ajude.
A moça foi para a outra cidade. Na sua cabine do trem estava um jovem com roupas muito pobres que lia um livro grosso. Ele não prestou a menor atenção em
Nina. Porém, à noite o trem deu um solavanco forte e no sono Nina caiu da cama de cima do beliche. Ela perdeu a consciência e acordou nos braços do jovem. Ele disse a ela:
Que bom que não dormi e consegui pegar a senhorita.
Muito obrigada, moço — disse Nina, levantando. — Se quiser, venha ao meu salão, trabalho na praça principal, corto seu cabelo e faço sua barba.
Não, eu mesmo corto o meu cabelo de seis em seis meses com uma grande tesoura de tosar ovelhas e também aparo minha barba. Obrigado.
Então — disse Nina — , venha só para tomar um chá.
Obrigado, gosto de tomar chá sozinho — respondeu o rapaz e voltou a ler o seu livro.
Então venha só por vir — disse Nina.
Ir só por ir eu não quero — respondeu o jovem — , não tenho tempo.
Enquanto isso o trem já havia chegado à outra cidade, e Nina foi visitar o mago. Ele se revelou um belo jovem com barba negra e óculos escuros muito bonitos. Disse que podia ajudar Nina, mas para isso exigia o dedão direito dela. Nina concordou, tornou-se uma mulher incrivelmente bonita, mas sem um dedo. Quando ela saiu na rua, os passantes começaram a parar, os carros começaram a buzinar, e os jovens corriam para acompanhar Nina à estação. No trem, cederam a ela uma cama na parte de baixo do beliche, trouxeram vários buquês de rosas, limonada e muitas caixas de bombons. Quando ela chegou à sua cidade, a mesma cena se repetiu. Atrás de Nina seguia o carro de um conde que, baixando o vidro, implorou pela janela que ela se casasse com ele. Mas Nina não entrou no carro dele. Agora ela vagava pela cidade dias inteiros, na esperança de encontrar o jovem do trem. Já não podia trabalhar como cabeleireira, porque lhe faltava o dedo principal da mão direita, mas ela tinha um pouco de dinheiro, e então ficou andando dias e dias pela cidade, e atrás dela seguia o carro do conde. Todo dia convidavam Nina para bailes, ela foi declarada a mulher mais bonita da cidade, e, alguns achavam, do mundo. Mas ninguém sabia que ela não tinha mais dinheiro e que só comia uma vez por dia — à noite, no baile, café com sorvete. Por fim, ela não aguentou e foi trabalhar como faxineira, juntou dinheiro e foi novamente ver o mago na outra cidade. Ela disse a ele:
Pegue todo o meu dinheiro, mas me diga onde encontrar meu amado, o homem do trem.
Certo — disse o mago — , devolva meu nariz e pegue o anterior, e aí eu digo.
Não — respondeu Nina — , peça tudo o que quiser, menos isso.
Certo — disse o mago — , vou ter que pegar mais um dedo da sua mão direita, dessa vez o indicador.
Está bem — respondeu a moça sem hesitar.
O endereço dele é o seguinte: ele vive na sua cidade, rua Mão Direita, casa dois, no sótão. Vá rápido!
Nina foi às pressas para a estação de trem, chegou à sua cidade e encontrou a casa. Ela entrou no sótão do seu amado e perguntou:
Está me reconhecendo?
Não — disse ele.
Lembra, você me pegou nos braços quando eu caí da cama de cima.
Não, não era você — respondeu o amado. — Aquela moça tinha um rosto completamente diferente. Ela era tão engraçada!
Nina não sabia mais o que dizer e saiu. Mas todo dia ela ia até a rua Mão Direita para olhar o jovem pela janelinha. Nina agora sempre usava luvas, só as tirava à noite para lavar as escadas. Ela era convidada para bailes, aniversários e festas da cidade como antes, o carro do conde ainda andava atrás dela, e duas vezes por mês o conde a pedia em casamento. Mas Nina não aceitava e respondia assim:
Já não basta você não parecer uma pessoa. Agora você está disposto a fazer de tudo por mim, mas depois vai ser ciumento ou pão-duro, vai me negar um pedaço de pão… Só faltava…
Mas eis que uma noite, depois de limpar a escada, Nina foi olhar a janela do rapaz e viu uma velha de preto mexendo a cortina. Fora de si de tanto medo, Nina correu para o quarto andar e tocou a campainha do sótão.
A própria velha de preto abriu a porta para ela.
O que você quer? — perguntou ela.
O que aconteceu com ele? — perguntou Nina.
Com quem?
Ora, com o rapaz, não sei o nome dele. Ele mora aqui.
E você é o que dele? — perguntou a velha.
Uma vez ele me salvou no trem — respondeu Nina.
Certo, entre. Ele está muito doente.
Nina entrou no quarto do sótão e viu seu amado, que estava deitado debaixo de um cobertor e respirava com dificuldade.
Quem é você? Eu não te conheço — ele disse. — Você não é quem diz ser.
O que você tem? — perguntou Nina.
Fiquei doente depois do estudo no porão da biblioteca. Pelo visto aprendi demais. Mas isso não é da sua conta. Logo vou morrer.
A velha acenou com a cabeça.
Nina saiu correndo, subiu no trem da noite e foi encontrar com o mago na outra cidade.
Não posso te ajudar em nada — disse o mago.
Eu lhe peço — Nina começou a chorar — , salve meu amado! Pegue o que quiser, pegue minha mão direita, posso lavar o chão com a esquerda.
Vou pegar meu nariz de volta — disse o mago.
Pegue e salve meu amado — respondeu Nina.
E naquele momento ela voltou a ser como era. Ao sair na rua, não recebeu nenhum olhar encantado, ninguém parou ao vê-la, ninguém a seguiu, não lhe deram uma única rosa. No trem, ela não recebeu nenhuma caixa de bombons. Quando ela chegou à sua cidade, viu o carro do conde, mas ele não reparou nela, apesar de estar vestida como sempre, com um vestido cinza, usando sapatos cinza e um chapéu cinza.
Nina correu para a rua Mão Direita, subiu voando para o quarto andar e entrou no quarto de seu amado. Ele estava sentado na cama bebendo cerveja.
Ah, é você! — exclamou ele. — Que bom te ver de novo. Vinha uma moça aqui e se fazia passar por você. Mas ninguém me engana. Nunca vi um rosto mais engraçado do que o seu. Não é tão fácil esquecer você.
Nina começou a rir e a chorar na hora. E no quarto o sol pareceu se acender de repente e as pérolas reluziram.
Por que você está chorando? — perguntou o jovem. — Não quer casar comigo?
Nina respondeu:
Eu não sou a mesma de antes.
E ela tirou a luva cinza da mão direita.
Isso? É uma bobagem — disse o rapaz. Eu me chamo Aníssim, sou médico. Li tudo o que há naquela biblioteca, até o último livrinho, no chão úmido do porão. Não gostaria de lê-lo de novo — acrescentou Aníssim e estendeu a mão para uma prateleira na qual havia poções, frasquinhos de gotas e garrafas com pílulas. — Aqui está, tome.
Nina tomou uma colherzinha do remédio, e a mão direita dela ficou como antes.
Eu só estou fazendo voltar ao que era — disse Aníssim alto —, nada mais.
Nina logo se casou com seu amado Aníssim e teve muitos filhos engraçados com ele.

Liudmila Petruchévskaia, in Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha: Histórias e contos de fadas assustadores

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