Numa
certa cidade vivia uma menina muito bonita chamada Nina. Ela tinha
cabelos dourados e encaracolados, olhos grandes e azuis como o mar,
um nariz enorme e maravilhosos dentes brancos. Quando ela sorria, era
como se o sol brilhasse. Quando ela chorava, era como se pérolas
caíssem. A única coisa que a estragava era o nariz grande. Uma vez,
Nina juntou todo o dinheiro que tinha e foi até o médico. Ela
disse:
— Não
tenho ninguém nesta cidade, eu me sustento sozinha, meu pai e minha
mãe moram longe e eu não posso pedir dinheiro, eles não são
ricos. Aqui está todo o meu dinheiro. Faça um nariz pequeno para
mim! Quando eu nasci, meus pais cometeram um erro e não convidaram
um velho feiticeiro que vivia na floresta para a festa. Quando ele
ficou sabendo que não tinha sido chamado, ficou muito ofendido e
disse que me daria um presente muito importante e valioso. E desde
então meu nariz começou a crescer. Quando meus pais foram perguntar
para o feiticeiro, ele disse que, se eu tivesse um nariz pequeno e me
tornasse uma bela mulher, qualquer cafajeste se apaixonaria por mim;
já desse jeito, só uma pessoa no mundo se apaixonaria por mim. E
depois ele disse para meus pais: “Vejam vocês! Vocês são pessoas
normais, feias, nunca se preocuparam com seus narizes!”. Meus pais
responderam: “Mas nossa filha seria linda, coitada!”. Mas o mago
não fez nada por mim. Agora eu cresci, trabalho como cabeleireira,
sou uma boa profissional, tenho fila de espera. Mas não sou feliz.
O
médico disse para ela:
— Aqui
não posso fazer nada. Vá para outra cidade, lá mora um mago,
talvez ele te ajude.
A
moça foi para a outra cidade. Na sua cabine do trem estava um jovem
com roupas muito pobres que lia um livro grosso. Ele não prestou a
menor atenção em
Nina.
Porém, à noite o trem deu um solavanco forte e no sono Nina caiu da
cama de cima do beliche. Ela perdeu a consciência e acordou nos
braços do jovem. Ele disse a ela:
— Que
bom que não dormi e consegui pegar a senhorita.
— Muito
obrigada, moço — disse Nina, levantando. — Se quiser, venha ao
meu salão, trabalho na praça principal, corto seu cabelo e faço
sua barba.
— Não,
eu mesmo corto o meu cabelo de seis em seis meses com uma grande
tesoura de tosar ovelhas e também aparo minha barba. Obrigado.
— Então
— disse Nina — , venha só para tomar um chá.
— Obrigado,
gosto de tomar chá sozinho — respondeu o rapaz e voltou a ler o
seu livro.
— Então
venha só por vir — disse Nina.
— Ir
só por ir eu não quero — respondeu o jovem — , não tenho
tempo.
Enquanto
isso o trem já havia chegado à outra cidade, e Nina foi visitar o
mago. Ele se revelou um belo jovem com barba negra e óculos escuros
muito bonitos. Disse que podia ajudar Nina, mas para isso exigia o
dedão direito dela. Nina concordou, tornou-se uma mulher
incrivelmente bonita, mas sem um dedo. Quando ela saiu na rua, os
passantes começaram a parar, os carros começaram a buzinar, e os
jovens corriam para acompanhar Nina à estação. No trem, cederam a
ela uma cama na parte de baixo do beliche, trouxeram vários buquês
de rosas, limonada e muitas caixas de bombons. Quando ela chegou à
sua cidade, a mesma cena se repetiu. Atrás de Nina seguia o carro de
um conde que, baixando o vidro, implorou pela janela que ela se
casasse com ele. Mas Nina não entrou no carro dele. Agora ela vagava
pela cidade dias inteiros, na esperança de encontrar o jovem do
trem. Já não podia trabalhar como cabeleireira, porque lhe faltava
o dedo principal da mão direita, mas ela tinha um pouco de dinheiro,
e então ficou andando dias e dias pela cidade, e atrás dela seguia
o carro do conde. Todo dia convidavam Nina para bailes, ela foi
declarada a mulher mais bonita da cidade, e, alguns achavam, do
mundo. Mas ninguém sabia que ela não tinha mais dinheiro e que só
comia uma vez por dia — à noite, no baile, café com sorvete. Por
fim, ela não aguentou e foi trabalhar como faxineira, juntou
dinheiro e foi novamente ver o mago na outra cidade. Ela disse a ele:
— Pegue
todo o meu dinheiro, mas me diga onde encontrar meu amado, o homem do
trem.
— Certo
— disse o mago — , devolva meu nariz e pegue o anterior, e aí eu
digo.
— Não
— respondeu Nina — , peça tudo o que quiser, menos isso.
— Certo
— disse o mago — , vou ter que pegar mais um dedo da sua mão
direita, dessa vez o indicador.
— Está
bem — respondeu a moça sem hesitar.
— O
endereço dele é o seguinte: ele vive na sua cidade, rua Mão
Direita, casa dois, no sótão. Vá rápido!
Nina
foi às pressas para a estação de trem, chegou à sua cidade e
encontrou a casa. Ela entrou no sótão do seu amado e perguntou:
— Está
me reconhecendo?
— Não
— disse ele.
— Lembra,
você me pegou nos braços quando eu caí da cama de cima.
— Não,
não era você — respondeu o amado. — Aquela moça tinha um rosto
completamente diferente. Ela era tão engraçada!
Nina
não sabia mais o que dizer e saiu. Mas todo dia ela ia até a rua
Mão Direita para olhar o jovem pela janelinha. Nina agora sempre
usava luvas, só as tirava à noite para lavar as escadas. Ela era
convidada para bailes, aniversários e festas da cidade como antes, o
carro do conde ainda andava atrás dela, e duas vezes por mês o
conde a pedia em casamento. Mas Nina não aceitava e respondia assim:
— Já
não basta você não parecer uma pessoa. Agora você está disposto
a fazer de tudo por mim, mas depois vai ser ciumento ou pão-duro,
vai me negar um pedaço de pão… Só faltava…
Mas
eis que uma noite, depois de limpar a escada, Nina foi olhar a janela
do rapaz e viu uma velha de preto mexendo a cortina. Fora de si de
tanto medo, Nina correu para o quarto andar e tocou a campainha do
sótão.
A
própria velha de preto abriu a porta para ela.
— O
que você quer? — perguntou ela.
— O
que aconteceu com ele? — perguntou Nina.
— Com
quem?
— Ora,
com o rapaz, não sei o nome dele. Ele mora aqui.
— E
você é o que dele? — perguntou a velha.
— Uma
vez ele me salvou no trem — respondeu Nina.
— Certo,
entre. Ele está muito doente.
Nina
entrou no quarto do sótão e viu seu amado, que estava deitado
debaixo de um cobertor e respirava com dificuldade.
— Quem
é você? Eu não te conheço — ele disse. — Você não é quem
diz ser.
— O
que você tem? — perguntou Nina.
— Fiquei
doente depois do estudo no porão da biblioteca. Pelo visto aprendi
demais. Mas isso não é da sua conta. Logo vou morrer.
A
velha acenou com a cabeça.
Nina
saiu correndo, subiu no trem da noite e foi encontrar com o mago na
outra cidade.
— Não
posso te ajudar em nada — disse o mago.
— Eu
lhe peço — Nina começou a chorar — , salve meu amado! Pegue o
que quiser, pegue minha mão direita, posso lavar o chão com a
esquerda.
— Vou
pegar meu nariz de volta — disse o mago.
— Pegue
e salve meu amado — respondeu Nina.
E
naquele momento ela voltou a ser como era. Ao sair na rua, não
recebeu nenhum olhar encantado, ninguém parou ao vê-la, ninguém a
seguiu, não lhe deram uma única rosa. No trem, ela não recebeu
nenhuma caixa de bombons. Quando ela chegou à sua cidade, viu o
carro do conde, mas ele não reparou nela, apesar de estar vestida
como sempre, com um vestido cinza, usando sapatos cinza e um chapéu
cinza.
Nina
correu para a rua Mão Direita, subiu voando para o quarto andar e
entrou no quarto de seu amado. Ele estava sentado na cama bebendo
cerveja.
— Ah,
é você! — exclamou ele. — Que bom te ver de novo. Vinha uma
moça aqui e se fazia passar por você. Mas ninguém me engana. Nunca
vi um rosto mais engraçado do que o seu. Não é tão fácil
esquecer você.
Nina
começou a rir e a chorar na hora. E no quarto o sol pareceu se
acender de repente e as pérolas reluziram.
— Por
que você está chorando? — perguntou o jovem. — Não quer casar
comigo?
Nina
respondeu:
— Eu
não sou a mesma de antes.
E
ela tirou a luva cinza da mão direita.
— Isso?
É uma bobagem — disse o rapaz. Eu me chamo Aníssim, sou médico.
Li tudo o que há naquela biblioteca, até o último livrinho, no
chão úmido do porão. Não gostaria de lê-lo de novo —
acrescentou Aníssim e estendeu a mão para uma prateleira na qual
havia poções, frasquinhos de gotas e garrafas com pílulas. —
Aqui está, tome.
Nina
tomou uma colherzinha do remédio, e a mão direita dela ficou como
antes.
— Eu
só estou fazendo voltar ao que era — disse Aníssim alto —, nada
mais.
Nina
logo se casou com seu amado Aníssim e teve muitos filhos engraçados
com ele.
Liudmila Petruchévskaia, in Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha: Histórias e contos de fadas assustadores
Nenhum comentário:
Postar um comentário