sábado, 15 de janeiro de 2022

O banho de música das 18 horas | Capítulo 11

Um anúncio declarou o término do banho de música, e a secretária logo convocou os líderes dos esquadrões de reconhecimento e de bombardeio para o tevê-fone. Seus rostos apareceram na tela, e eles estavam praticamente idênticos: grandes olhos esbugalhados e bochechas magras, arfando como se tivessem asma. A secretária ficou estarrecida — ela nunca os vira tão abatidos.
Os líderes dos esquadrões receberam ordens para começar a mobilização e preparar-se para o combate. Eles respeitosamente aceitaram as ordens, com seus rostos magros brilhando de lealdade. A secretária estava extremamente satisfeita, seu desânimo e raiva foram esquecidos em um instante.
O que você acha, Vossa Excelência? Eu nunca os vi tocados por uma emoção tão profunda.
Não estou muito confiante… Particularmente, eu não consigo mais olhar para as faces do meu povo.
Vossa Excelência, você é sensível demais. Não se preocupe, apenas deixe nas mãos daqueles líderes leais, e tudo ficará bem.
Após quatro ou cinco minutos, o sinal do tevê-fone tocou e os rostos dos líderes de esquadrão apareceram mais uma vez na tela. A exaustão em seus rostos era óbvia; como se eles tivessem envelhecido cinco ou seis anos durante o curto tempo decorrido.
Os líderes contaram que eles emitiram uma convocação de emergência para os soldados. Então revelaram um fato chocante do que aconteceu a seguir. —… Apesar dos espíritos inflamados dos soldados, eles estavam todos com a saúde prejudicada, não havia um único indivíduo apto ao combate.
A princípio, a secretária não conseguiu acreditar. Mas após uma série de questionamentos, ela não teve escolha a não ser aceitar a realidade de má vontade — todos os soldados foram muito afetados pelo banho de música: alguns enlouqueceram, ou quase; outros perderam um quinto do seu peso corporal em apenas um dia ou então seus órgãos vitais ficaram gravemente enfermos. O resultado foi um estado de aniquilação completa do esquadrão de reconhecimento e o de bombardeio (cujo dever era expulsar o inimigo e proteger a nação), mesmo ainda não tendo entrado em combate. A Nação Miruki cometeu suicídio. Em apenas três horas, o banho de música de 24 horas regulamentado pela secretária causara uma devastação terrível à nação. As únicas duas pessoas que ainda estavam confortavelmente acomodados eram a madame Asari e o presidente Miruki, não obrigados à exposição ao banho de música.
Durante esse período, anúncios continuavam a surgir da Divisão de Astronomia. Uma voz fraca informava sobre a aproximação do foguete marciano.
O que aconteceu com essa nação?… — questionou o presidente Miruki, que já não fazia mais nenhum esforço para esconder seu desespero. Na tela, o líder de esquadrão respondeu.
Se as coisas continuarem como estão, o foguete marciano se infiltrará sem dificuldades na Nação Miruki. Se nós tivéssemos pelo menos cem soldados, nós poderíamos proteger a capital, pelo menos por um tempo. Mesmo cinquenta soldados poderiam fazer uma diferença, mas meu esquadrão atualmente está… Argghhh!
A secretária, ao ouvir isso, sentiu sua sobrancelha tremer assim que se lembrou de algo importante.
A-há, ainda temos o último recurso! — ela gritou.
Último recurso?
Sim, último recurso. Derrubar a porta do setor Alishia e assumir o controle dos androides escondidos lá pelo professor Kohak. Em seguida, dispô-los em combate.
É claro, os androides! — o presidente Miruki disse e bateu palmas. Entretanto, o olhar de preocupação logo retornou ao seu rosto. — Mas será que existe mesmo uma coleção deles, fortes, como os que precisamos no setor Alishia? Além disso, aquela porta não abre de jeito nenhum. Os boatos são de que explodirá se forçarmos a entrada.
Bem, isso ainda não foi confirmado, mas também temo a possibilidade de explodir. No entanto, irei abri-la, independentemente do que possa acontecer.
Independentemente do que possa acontecer? — perguntou o líder de esquadrão, com as sobrancelhas franzidas.
Naquele momento, a secretária, tremendo de antecipação no meio do cômodo, de súbito deu uma ordem resoluta.
Eu ordeno que o esquadrão de bombas vá para o setor Alishia e destrua a porta de uma vez por todas. O esquadrão de reconhecimento deve aguardar na reserva até segunda ordem.
Na tela, as expressões dos dois líderes de esquadrão enrijeceram, como se fossem peixes fora d’água. O presidente Miruki lamuriou e se jogou no sofá de modo dramático.
De volta ao Setor Alishia, Penn e Bara pareciam duas pessoas muito diferentes, suas peles e ossos estavam semelhantes aos de múmias.
Penn estava desenhando um diagrama de um aparelho incompreensível no seu quadro de rabiscos, encharcado por uma baba constante que escorria dos seus lábios. Bara — agora um homem — trabalhava ruidosamente com a calculadora; empenhado em uma tarefa impensada de dividir um número indivisível até vários bilhões de casas decimais; às vezes, ele de repente chamava pelo nome da sua amada Annette, como se estivesse delirando de febre.
O esquadrão de bombas, de súbito, invadiu o setor Alishia (agora parecendo com uma instituição de deficientes mentais), e o grande grupo de soldados enfraquecidos e exaustos entrou. Assustados, Penn e Bara se espremeram contra a parede, assim como morcegos.
A partir do sinal do líder, eles começaram a atacar a décima porta. Um trabalho que requeria uma única pessoa para realizá-lo, agora exigia vinte pessoas. Eles morriam um após o outro, lamentavelmente agarrados ao maçarico. Até o menor esforço colocava um fim nos seus corações cansados.
No cômodo, o humor da secretária se deteriorava conforme ela recebia os relatos que chegavam a todo momento. Corpos continuavam a se empilhar do lado de fora da décima sala, e após ouvir que a porta não podia ser aberta e os cadáveres não podiam mais ser movidos de lugar, ela deu a ordem para o esquadrão de reconhecimento avançar.
Mas o que se podia esperar de soldados que se encontravam muito enfermos?
Mesmo assim, finalmente conseguiram destruir a porta. Entretanto, uma vez que os heróis do esquadrão de reconhecimento descobriram uma porta reforçada atrás dela, eles caíram no chão como sacos de batata.
A secretária organizou o exército nacional e o ordenou que fosse até a décima porta. Em seguida, o esquadrão nacional secundário e o terciário foram enviados para ajudar. Ainda assim, a entrada da décima sala não se moveu.
O hino nacional era tocado continuamente com o objetivo de estimular as tropas, mas, ao exceder a dosagem ao máximo, só estimulou perdas de consciência improdutivas. No final, os únicos membros da Nação Miruki com qualquer força restante eram o presidente e a madame Asari.
Ainda assim, ela não deu qualquer sinal de enviar uma ordem cessando o ataque.
Era como se estivesse possuída.
Por fim, os dois deixaram a sala e seguiram pelo corredor, em direção ao setor Alishia. Pela primeira vez, foram batizados pelo banho de música — uma sensação muito agradável. Mas, conforme o tempo progredia, seus cérebros eram cozidos passo a passo pela música acelerada; náusea, e outro sentimento desagradável, aos poucos se infiltrou em ambos. Eles praticamente tropeçaram ao longo da entrada do setor.
Ecoando no local, podiam ser ouvidos gritos de gelar o sangue. Eles olharam em volta, horrorizados, e encontraram pilhas e mais pilhas de corpos. Mais ao fundo, a porta fechada parecia provocá-los.
Vamos? — perguntou o presidente Miruki.
Certo, aqui vamos nós — madame Asari respondeu.
Vamos derrubar essa porta.
Até mesmo eles pareciam não entender o objetivo de abrir a porta. Queimando com a paixão dos mártires, os últimos sobreviventes da Nação Miruki correram impetuosamente em direção à porta de aço, seguindo as ordens que deram a si mesmos.
Naquele momento, havia uma sensação de que seus corpos estavam envoltos em faíscas amarelas. Isso foi o fim. Eles perderam a consciência — e em um piscar de olhos o lugar caiu em um silêncio sepulcral.
Mas se alguém escutasse atentamente, poderia ouvir um som estranho, como se algo estivesse se arrastando das profundezas da terra. Transmitido através de paredes grossas, o som se intensificou devagar, como se algo se erguesse do solo. Momentos depois, surgiu um som metálico, e a porta de ferro do décimo andar — muito semelhante a uma pedra inamovível — aos poucos começou a abrir, sem fazer barulho.
A figura que calmamente apareceu do outro lado da porta aberta da décima sala não era ninguém além do professor Kohak, um homem dado como morto. Uma estranha armadura, similar a um besouro, cobria seu corpo. Atrás dele, quinhentos androides, semelhantes à Annette, acompanhavam-no em silêncio.
O professor girou o primeiro marcador preso ao peito da sua armadura. Uma fraca chama vermelha se arqueou entre seus ombros quando a eletricidade foi descarregada; a distante melodia do banho de música da nação, de repente, foi interrompida em um piscar de olhos.
Em seguida, o professor ajustou o segundo marcador. O exército de androides parados atrás dele começou a andar, passando por ele, em uma linha bem formada em frente à sala. Dois deles ficaram para trás, assumindo a posição de Penn e Bara. Cada androide tomou um posto importante para substituir cada cidadão perdido da Nação Miruki.
O professor Kohak, então, ligou o terceiro marcador. Em resposta, uma leve melodia começou a soar.
Um pouco depois, o rosto de um androide apareceu no tevê-fone da sala. Ele virou-se para o professor e começou a falar:
A música decretada por lei foi completamente destruída. Em seu lugar, um banho de música para a humanidade começou.
O professor assentiu em silêncio. O banho de música exaltava uma nova humanidade! Seria possível que essas enormes pilhas de corpos pudessem renascer em uma nova humanidade através do banho de música?
No entanto, os cadáveres, agora frios como lápides, permaneceram imóveis.
O professor entrou na sala de comando e, usando o gigante painel de controle dentro da sala, habilmente controlou os quinhentos androides sem alma.
Um barulho alto, esganiçado, soou quando um canhão elétrico, nas mãos de um androide, disparou bombas em sucessão direcionadas ao foguete marciano.
Centenas de aeronaves de guerra subiram a superfície, em direção ao céu. No subterrâneo, montanhas de bombas de artilharia, bombas de gás venenoso e bombas desmagnetizantes foram fabricadas — tudo pelas mãos dos androides.
O professor ouvia tranquilamente, extasiado pela melodia desse novo banho de música, o hino que exaltava a humanidade.
Uma música para a humanidade, executada para os cidadãos da Nação Miruki. Os cadáveres gelados? Ou estava sendo tocada para transplantar almas humanas para os lindos androides do professor? Não, era um canto fúnebre, tocada para o único humano sobrevivente, o professor Kohak, que agora governava absoluto. Para ele, um homem muito inteligente, reviver as pilhas de corpos da Nação Miruki não era uma tarefa considerada difícil. Mas ele não tinha a menor intenção de fazer isso. Cientistas são — no fim — pessoas sem coração.
No fundo, o professor Kohak fez tudo isso para construir sua tão sonhada utopia, com ardor e convicção. Após se tornar o foco do ardil da secretária, ele moldou um androide com sua aparência e ordenou sua autodestruição na sala do presidente Miruki. Ele fez isso por dois motivos: para dar início aos seus planos e para acobertar a existência do androide que criara.
Imerso no novo banho de música, um hino para a nova humanidade, a emergente nação androide de Kohak deu o primeiro passo para começar um novo mundo.

Juza Unno, in A última transmissão

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