quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Flores silvestres

O que estão dizendo? Que querem
vida eterna? Seus pensamentos são mesmo
tão arrebatadores assim? Com certeza
não olham para nós, não nos ouvem,
em sua pele
mancha de sol, pó
de botões-de-ouro: estou falando
com vocês, vocês que olham fixamente por entre
os talos de grama alta agitando
o pequeno guizo — Ó
alma! alma! Basta
olhar para dentro? Desdém
pela humanidade é uma coisa, mas por que
desprezar o vasto
campo, seu olhar elevando-se acima das nítidas cabeças
dos botões-de-ouro silvestres em direção a quê? Sua pobre
ideia de céu: ausência
de mudança. Melhor que a terra? Como
saberiam, se não estão nem
aqui nem lá, eretas entre nós?

Louise Glück (Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins)

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