Imagine
que os gramáticos se reunissem num congresso e resolvessem fazer uma
reforma no Aurélio à semelhança do gramático Castro Lopes, que
quis inventar a palavra “balípodo” para substituir o anglicismo
“futebol”. E assim, convencidos de que tinham poderes para
inventar palavras, dissessem que, dali para frente, haveria uma única
palavra para designar tatus e borboletas. Assim, se alguém quisesse
falar sobre “tatus”, escreveria “tatus”: vi um tatu cavando a
terra.... E se alguém quisesse falar sobre borboletas, escreveria
“tatus”: vi um tatu voando de flor em flor. Vão me dizer que
isso é doidice. Que os gramáticos são pessoas de juízo. Digo que
não são. Eles decretam o uso de uma única palavra para designar
coisas totalmente diferentes. Aboliram “estória”. Só é
português a palavra “história”. Mas “estória” e “história”
são coisas totalmente distintas, são entidades de mundos
diferentes. Guimarães Rosa é taxativo: Estória não quer ser
história. Estória é contra a história. Se o revisor obedecesse o
Aurélio, o texto de Guimarães Rosa ficaria: A história não quer
ser história. A história é contra a história. Alguém está
louco. Digo que é o dicionário.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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