Não,
não existe geração espontânea. Os (ainda) chamados modernistas,
com a sua livre poética, jamais teriam feito aquilo tudo se não se
houvessem grandemente impressionado, na incauta adolescência, com os
espetáculos de circo dos parnasianos.
Acontece
que, por sua vez, fizeram eles questão de trabalhar mais
perigosamente, sem rede de segurança — coisa que os acrobatas
antecessores não podiam dispensar.
Quanto
a estes, os seus severos jogos atléticos eram uma sadia reação
contra a languidez dos românticos.
E
assim, sem querer, fomos uns aprendendo dos outros e acabando
realmente por herdar suas qualidades ou repudiar seus defeitos, o que
não deixa de ser uma maneira indireta de herdar.
Por
essas e outras é que é mesmo um equívoco esta querela,
ressuscitada a cada geração, entre novos e velhos.
Quanto
a mim, jamais fiz distinção entre uns e outros. Há uns que são
legítimos e outros que são falsificados. Tanto de um como de outro
grupo etário. Porque na verdade a sandice não constitui privilégio
de ninguém, estando equitativamente distribuída entre novos e
velhos, em prol do equilíbrio universal.
E
além de tudo, os novos significam muito mais do que simples
herdeiros: embora sem saber, embora sem querer, são por natureza os
nossos filhos naturais.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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