O
Mayombe tinha criado o fruto, mas não se dignou a mostrá-lo aos
homens: encarregou os gorilas de o fazer, que deixaram os caroços
(de comunas) partidos perto da Base, misturados com as suas pegadas.
E os guerrilheiros perceberam então que o deus-Mayombe lhes indicava
assim que ali estava o seu tributo à coragem dos que o desafiavam:
Zeus vergado a Prometeu, Zeus preocupado com a salvaguarda de
Prometeu, arrependido de o ter agrilhoado, enviando agora a águia,
não para lhe furar o fígado, mas para o socorrer. (Terá sido Zeus
que agrilhoou Prometeu, ou o contrário?)
A
mata criou cordas nos pés dos homens, criou cobras à frente dos
homens, a mata gerou montanhas intransponíveis, feras, aguaceiros,
rios caudalosos, lama, escuridão. Medo. A mata abriu valas
camufladas de folhas sob os pés dos homens, barulhos imensos no
silêncio da noite, derrubou árvores sobre os homens. E os homens
avançaram. E os homens tornaram-se verdes, e dos seus braços folhas
brotaram, e flores, e a mata curvou-se em abóbada, e a mata
estendeu-lhes a sombra protetora, e os frutos. Zeus ajoelhado diante
de Prometeu. E Prometeu dava impunemente o fogo aos homens e a
inteligência. E os homens compreendiam que Zeus, afinal, não era
invencível, que Zeus se vergava à coragem, graças a Prometeu que
lhes dá a inteligência e a força de se afirmarem homens em
oposição aos deuses. Tal é o atributo do herói, o de levar os
homens a desafiarem os deuses. Assim é Ogun, o Prometeu africano.
Pepetela,
in Mayombe
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