Voltamos a encarar
de novo o grave mal que ameaça derruir a moral do povo: o
analfabetismo. A ignorância arrasta, a passos gigantescos, a
multidão sertaneja ao abismo tenebroso do crime!
Tinge ainda a terra
do Candará o sangue da criança inocente que tombou aos golpes
fatais de enxada que seu tio e companheiro de travessuras infantis,
com idade de pouco mais de dois lustros, lhe projeta no crânio.
Enchem ainda o
coração do povo de Vitória os gritos lancinantes do rapazelho que
expira com a garganta entre as garras ferozes de um soldado de
polícia na praça pública, à luz meridiana.
Não se apagou
ainda da retina dos habitantes do sítio Lagoa Mourão a visão
trágica e canibalesca de uma cena em que três indivíduos apunhalam
um homem, por motivos fúteis, por cachaçadas talvez!...
São desta natureza
os dramas terríveis que nos oferece a selvageria do meio em que
vivemos. E tudo por quê? Porque, em vez de uma carta de ABC, se dá
ao povo a carta de baralho; porque, em vez de um ensinamento são,
que lhe ilumine o cérebro, se lhe deita na boca o copo de aguardente
que lhe devasta o organismo e relaxa o caráter!
Urge, pois, que se
ponha termo a tamanhas misérias.
Como fazê-lo?
Projetando na treva
que há na alma do analfabeto o clarão radioso que vem do livro! Não
serão acaso tantos crimes o resultado da ignorância que caracteriza
o povo? Precisamos abrir escolas. E é na palavra autorizada de
Guerra Junqueiro que vamos achar este conceito de suprema verdade:
“Alongar a escola é diminuir o cárcere.”
Graciliano
Ramos, in Garranchos
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