Antônio
da Fonseca Soares nasceu na Vila de Vidigueira, Alentejo, a 25 de
junho de 1631 e faleceu no convento franciscano de Varatojo, a 20 de
outubro de 1682. Foi capitão de cavalos, soldado valente, batendo-se
na campanha da Independência de Portugal. Esteve na Bahia. Poeta,
espadachim, elegante. Abandonou as aventuras para ser frade,
professando no Convento de São Francisco de Évora, 19 de maio de
1663. Missionário apostólico. Instituidor do Seminário de
Varatojo, no convento fundado pelo Rei D. Afonso V. É um clássico
do idioma. Sua bibliografia é clara, viva, cativante, num estilo de
equilíbrio e pureza onde a nobre simplicidade não oculta a força
original de um espírito lúcido e ágil.
Numa
sua Carta a um amigo, reunida a outros trabalhos e publicada
em 1687, Lisboa, oficina de Miguel Deslandes, há um mote em
redondilha que o frade glosa em quatro décimas. Assim diz a
redondilha:
Grande
desgraça é nascer
Porque
se segue o pecar,
Depois
de pecar morrer,
Depois
de morrer penar.
Dona
Carolina Michaelis de Vasconcelos encontrou a redondilha de Frei
Antônio das Chagas no anonimato das trovas populares portuguesas. As
modificações indispensáveis faziam ao sabor do entendimento
lírico. Rodney Gallo reproduziu-a:
Triste
sorte é a nossa;
Depois
de nascer, pecar,
Depois
de pecar, morrer,
Depois
de morrer, penar.
Essa
quadra deve ter vindo para o Brasil, impressionando a inspiração
dos improvisadores da cantoria sertaneja. Leonardo Mota (1891-1948)
registrou uma oitava do cantador Anselmo Vieira de Sousa,
reproduzindo-a no seu Cantadores (1921). Identifiquei-a,
divulgando a origem no Vaqueiros e cantadores (1939). A
redondilha de Frei Antônio das Chagas circula na legitimidade das
cores brasileiras, ampliada na lógica instintiva do velho cantador
analfabeto do Ceará. O poeta, que recusou a mitra episcopal Lamego,
não poderia prever a viagem surpreendente de seu verso, provocando
uma composição autêntica na literatura oral do Brasil.
Triste
sina de quem nasce
porque
depois de nascer,
não
escapa de mamar,
depois
de mamar, viver.
Depois
de viver, pecar,
depois
de pecar, morrer;
Depois
do corpo pecar
A
alma é quem vai sofrer!
Luís
da Câmara Cascudo, in Coisas que o povo diz
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