domingo, 17 de dezembro de 2017

Primeira vigília noturna

GÁVEA DO TRAQUETE
[Stubb, sozinho, consertando uma braçadeira.]
Ha! ha! ha! ha! hein! Limpei minha garganta! – estive pensando desde então, e este “ha, ha” é a conclusão. Por quê? Porque uma risada é a resposta mais sábia e mais fácil para tudo o que é estranho; e, venha o que vier, um consolo sempre resta – um consolo infalível, de que tudo é predestinado. Não ouvi toda sua conversa com Starbuck; mas, para meus olhos de pobre-diabo, Starbuck parecia sentir-se mais ou menos como me senti naquela outra noite. Com certeza o velho Grão-Mogol também se encarregou dele. Eu saquei, eu sabia; se tivesse o dom, teria adivinhado – pois quando bati o olho em seu rosto, eu vi. Bem, Stubb, sábio Stubb – é meu título –, bem, Stubb, e então, Stubb? Eis aí a carniça. Não sei de tudo que está por vir, mas, seja o que for, vou fazer dando risada. Como sempre há algo de cômico nas coisas mais horríveis! Sinto-me alegre. Tra-lalá-lalá! O que estaria fazendo agora minha perinha gostosa lá em casa? Chorando as mágoas? – ou dando uma festa para os arpoadores recém-chegados, creio, alegre como a bandeirola de uma fragata, assim como eu também – tra-lalá-lalá! Oh –

Vamos beber esta noite, cheios de graça,
Para que os amores, alegres, espumantes,
Como as bolhas que bordejam nesta taça,
Estourem leves pela boca dos amantes.

Que estrofe mais arrojada – quem está chamando? Senhor Starbuck? Sim, sim, senhor – [à parte] ele é meu superior, mas também tem seu superior, se não me engano. – Sim, sim, senhor, já termino este serviço – já vou.
Herman Melville, in Moby Dick

Nenhum comentário:

Postar um comentário