“Envelheço
aprendendo sempre” - Sólon, na sua velhice, repetia muitas vezes
este verso. O sentido que esse verso possui permitir-me-ia dizê-lo
também na minha; mas é bem triste o conhecimento que, desde há
vinte anos, a experiência me fez adquirir: a ignorância ainda é
preferível. A adversidade é, sem dúvida, um grande mestre, mas faz
pagar caro as suas lições e muitas vezes o proveito que delas se
tira não vale o preço que custaram. Aliás, a oportunidade de nos
servirmos desse saber tardio passa antes de o termos adquirido.
A
juventude é o tempo próprio para se aprender a sabedoria; a velhice
é o tempo próprio para a praticar. A experiência instrui sempre,
confesso, mas não é útil senão durante o espaço de tempo que
temos à nossa frente. É no momento em que se vai morrer que se deve
aprender como se deveria ter vivido?
De
que me servem os conhecimentos que tão tarde e tão dolorosamente
adquiri sobre o meu destino e sobre as paixões alheias de que ele é
o fruto? Não aprendi a conhecer os homens senão para melhor sentir
a desgraça em que me mergulharam e esse conhecimento, embora me
revelasse todas as suas armadilhas, não me permitiu evitar nenhuma
delas. Porque não permaneci nesse estado de confiança, insensata
mas ditosa que durante tantos anos fez de mim a presa e o joguete dos
meus ruidosos amigos, sem que tivesse a mínima suspeita de todas as
tramas em que estava envolvido? Troçavam de mim e eu era vítima
deles, é verdade, mas acreditava que me amavam, e o meu coração
deliciava-se com a amizade que eles me tinham inspirado e pensava que
sentiam por mim uma amizade igual. Essas doces ilusões estão
destruídas. A triste verdade, que o tempo e a razão me revelaram,
ao fazer-me sentir a minha infelicidade, permitiu-me ver que não
havia remédio e que não me restava senão resignar-me. Por isso,
para mim, na minha situação atual, todas as experiências da minha
idade não têm utilidade presente nem proveito futuro.
Ao
nascermos, iniciamos uma luta que só termina com a morte. De que
serve aprender a conduzir melhor o seu carro quando se está no fim
da estrada? Então, já não resta senão pensar em como sair dele. O
estudo de um velho, se é que ainda tem algo a estudar, consiste
unicamente em aprender a morrer, e é precisamente o que menos se faz
na minha idade, em que se pensa em tudo menos nisso. Os velhos estão
mais agarrados à vida do que as crianças e saem dela com mais má
vontade do que os jovens. É que, como todos os seus trabalhos se
destinaram a essa mesma vida, ao chegarem ao fim, veem que os seus
esforços foram inúteis. Todos os seus cuidados, todos os seus bens,
todos os frutos das suas laboriosas vigílias, tudo abandonam quando
partem. Em vida, não pensaram em adquirir algo que pudessem levar
consigo quando morressem.
Jean-Jacques
Rousseau, in Os devaneios do caminhante
solitário
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