Se
o louva-a-deus se finge de bendito, ninguém se fie de sua
tranquilação. Só às ocultas vezes, aliás, propõe-se como de
fato é: maxiloso, carnivoroso, muito quadrúpede a seis, todo
cibernético: é um dragão que vai ou não voar, vai matar e comer,
é a fera em suave, o cabeça de guerreiro, blitzíssimo. De andas,
sobre palanque, estendeu muito suas pernas no chão, erguidas as
mãos, boxeador, apunhalante. Mas o louva-a-deus espia para trás.
Quer é mesa posta. O louva-a-deus e a folhagem: indiscerníveis.
Já
quem vem lá, é o gafanhoto. O gafanhoto é também um robô, embora
pareça um diabo; e otário. Suas coxas montanhosas, musculosas,
longicônicas, clava gorda o fêmur, suas patas saltadoras —
denunciam o elemento acrobático, não o suculento. Juram-no porém
gostoso, culinário, um senhor petisco. Sem motivo também (vid.
vaidade) não o chamariam de salta-marquês. Dom Gafanhoto vem vindo.
Ouviu-se, então, vozinha verde, tênue, pia, lisonjosa:
—
Compadre? Compadre... Faz favor,
Compadre, pode se chegar. Compadre amigo... Grande Compadre!
Grandíssimo Compadre Dom Gafanhoto, rei dos nobres... Distintíssimo!
Ah, Compadre, o senhor é o maior... O senhor é o senhor... Tão
rico, tão sabido, tão bom... Ah! Ah... Tão bom... tão bom...
Compadre... Ah, ah!... Só esta vossa cabeça é que está meia dura
para se roer, mas, a barriga, ei, ela estava gostosa como outra nunca
se viu…
Guimarães
Rosa, in Ave, palavra
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