No
futebol, sublimação ritual da guerra, onze homens de calção
acabam sendo a espada vingadora do bairro, da cidade ou da nação.
Estes guerreiros sem armas nem couraças exorcizam os demônios da
multidão e confirmam sua fé: em cada confronto entre duas equipes,
entram em combate velhos ódios e amores herdados de pai para filho.
O
estádio tem torres e estandartes, como um castelo, e um fosso fundo
e largo ao redor do campo. No meio, uma raia branca assinala os
territórios em disputa. Em cada extremo, aguardam os arcos, que
serão bombardeados por boladas. Em frente aos arcos, a área se
chama zona de perigo.
No
círculo central, os capitães trocam flâmulas e se cumprimentam
como manda o ritual. Soa o apito do árbitro e a bola, outro vento
assobiador, põe-se em movimento. A bola vai e vem e um jogador leva
essa bola e passeia com ela até que alguém lhe dá uma trombada e
ele cai escarranchado. A vítima não se levanta. Na imensidão da
grama verde, jaz o jogador. E na imensidão das arquibancadas, as
vozes trovejam. A torcida inimiga ruge amavelmente:
–
Morre!
– Que
se muera!
– Devi
morire!
–
Tuez-le!
– Mach
ihn nieder!
– Let
him die!
– Kill
kill kill!
Eduardo
Galeano, in Futebol
ao sol e à sombra
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