Anterior
ao tempo ou fora do tempo (ambas locuções são vãs) ou em um lugar
que não é do espaço, há um animal invisível, por acaso diáfano,
que os homens buscam e que nos busca. Sabemos que não pode ser
medido.
Sabemos
que não pode ser contado, porque as formas que o somam são
infinitas.
Há
quem o tenha buscado em um pássaro, que está leito de pássaros; há
quem o tenha buscado em uma palavra ou nas letras dessa palavra; há
quem o tenha buscado, e o busca, em um livro anterior ao árabe em
que foi escrito, e ainda a todas as coisas; há quem o busque na
frase Sou O Que Sou.
Como
as formas universais da escolástica ou os arquétipos de Whitehead,
costuma baixar fugazmente. Dizem que habita os espelhos, e que quem
se olha O olha. Há quem o veja ou entreveja na bela memória de uma
batalha ou em cada paraíso perdido.
Conjectura-se
que seu sangue bate em teu sangue, que todos os seres o engendram e
foram engendrados por ele e que basta inverter uma clepsidra para
medir sua eternidade.
Espreita
nos crepúsculos de Turner, no olhar de uma mulher, na antiga
cadência do hexâmetro, na ignorante aurora, na lua do horizonte ou
da metáfora.
Nos
elude de segundo em segundo. A sentença do romano se gasta, as
noites roem o mármore.
Jorge
Luis Borges, in Os conjurados
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