Este
ano pretendo cumprir rigorosamente a resolução que tomei no fim do
ano passado: não mais tomar resoluções de ano-novo. Elas são
promessas que fazemos à nossa consciência em que nem a consciência
acredita mais. A minha já estava reagindo com bocejos a cada
juramento que eu fazia para o ano-novo.
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Vou começar uma dieta. Séria, desta vez.
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Sei, sei.
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Vou ser tolerante, justo, sóbrio, equilibrado... e arrumar meus
livros.
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Tudo bem.
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Fazer exercícios diários. Usar fio dental. Reler os clássicos. Não
tudo ao mesmo tempo, claro.
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Certo, certo.
Mesmo
com ar de enfado, minha consciência não deixa de se submeter ao
exame anual que faço nela, sempre nos últimos dias de dezembro. Uma
espécie de checkup moral. Seu estado geral é bom. Não teve grandes
provações no ano passado. Fiz algumas coisas que não devia, não
fiz outras que devia, nada grave. Vamos poder continuar nos encarando
- principalmente agora que eliminamos este ridículo ritual das
resoluções de fim de ano da nossa relação. O homem maduro é o
que desiste da virtude impossível para não perder a possível.
Luís
Fernando Veríssimo, in As mentiras que os homens contam
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