sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Virginia Woolf: uma busca pelo seu próprio moinho

Quando escrever é uma arma que só a dor e a delícia de ser o que é sabe apertar o gatilho.

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É um erro lê-los, para uma mulher, pois ela inevitavelmente procurará algo e não encontrará”, afirma uma das maiores romancistas inglesas do seu tempo com base na tal teoria dos dois lados da mente, sobre a consciência da própria virilidade na escrita masculina. Em outras palavras, alude como os homens escrevem apenas com o lado masculino do cérebro. O trecho reflexivo pertence ao seu livro-ensaio “Um teto todo seu”, publicado em 1929, baseado em uma série de palestras que deu em duas escolas para mulheres na Cambrigde University.
Virginia Woolf vai construindo na sua biografia de barco em tempestade, uma história de escrita feminina. Caracterizada por ser uma autora difícil e visceral, a grafia para ela era algo infernal mas que de contratempo mantinha sua vitalidade. Um refúgio nos livros, uma salvação na literatura. Por entre vezes, em seus diários, armas nos quais se auto criminava, diz se sentir perto do precipício. “Todos os escritores são infelizes. As pessoas sem palavras é que são felizes'”.
Os mitos têm uma vida dura. Nascida em uma teto onde as cabeças são obtusas e acordais, sua família burguesa tradicional dentro da normalidade seguia no paternalismo da sociedade britânica das aparências. Ser uma moça encantadora é uma vantagem. Tudo a repulsa. Virginia aguentaria no dia a dia a tirania masculina dos “machos vitorianos” que se estendiam ao autoritarismo, submissão, maus tratos e limitação intelectual. “Convive com essas três espécimes (seu pai, cujo mais reprova, mas o que é desculpado pela idade e seus dois irmãos George e Gerald, nos quais não admite a burrice como casos desesperados) dessa raça cujo desaparecimento deseja ardentemente”, rubrica a autora jornalista de sua biografia Alexandra Lemesson.
Sintetizando os termos elementares da história, sujeito, discurso e poder em uma discussão foucaultiana, Woolf estaria com o termo Dispersão, como afirma o livro de J.J Domingos, uma parte de sua dissertação de mestrado, “Discurso, Poder e Subjetivação: Uma discussão Foucaultiana”. O pensamento de que esses conceitos, não são mais “o lugar de repouso, da certeza, da reconciliação, do sono tranquilizador”. A subjetivação das lutas do discurso da Virginia Woolf vaga por entre seus diários e obras pincelando sua vida como algo a se descobrir em descontínuo.
Fugindo a tirania doméstica do pai, escreve: “Enquanto as mulheres forem economicamente dependente dos homens elas o serão também espiritualmente”. Assim, Virginia começará a construir um teto seu dentro do teto patriarcal no número 22 da Hyde Park Gate. No segundo andar, ela junto a sua irmã Vanessa, escondem seu temperamento bélico e fomentam sua revolta e resistência contra a sistemática dos machos vitorianos. Vão pintar, ler desenhar e escrever. Sonhar juntas o que era oprimido do ser. Falando sobre a singularidade de duas vidas: Em baixo executavam tarefas banais atribuídas as boas aparências: servir chá, preparar refeições entre outros. Em cima, eram aquilo além do que se bastavam em um mundo de homens.

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Aos poucos, entre um ofício no jornalismo literário de jornais e revistas e o sucesso de suas obras, embasa o que lhe foi apetecido na sua construção do seu lado feminino do cérebro e aplicado em uma literatura dominada pelo patriarcado, exercendo influências em comunidades feministas e LGBTTT. Ao lado de um pai que acreditava que só os meninos deveriam ser enviados para a escola, ela resiste e ocupa na interrogação de uma educação formal para mulheres e sua posição vassala na sociedade.
Desenvolveu sua intelectualidade no grupo de Bloomsbury, nomeado pelo bairro no qual as suas irmãs haviam se mudado e se reuniam com amigos, discutindo não só intelectualidades formais, mas sim a cordialidade de ser humano. Assim ela se dissipava de suas coerções morais e experimentava a atmosfera de liberdade que parecia ser felicidade. Em pouco tempo, conhece o seu porto, Leonard Woolf, que futuramente será seu marido e o amor da sua vida.
A loucura, ansiedade, depressão, alucinações e demência foram um cenário da vida e escrita de Virginia Woolf. Convencida de sua incapacidade de escrever e atravessar outro episódio de demência. Escreve duas cartas perturbadas. Uma para seu marido outra para sua irmã. O último episódio de sua vida é na manhã dia 28, porém uma decisão mastigada em vários dias. Não é algo que deseje. Apenas quer a paz. E é nessa busca por ser livre que ela pega seu casaco e sua bengala e sai até as águas do rio Ouse. Enche os bolsos de pedras e resiste as ondas como se fosse um barco e navegar fosse preciso sem mais tempestades. Acha um lugar pra descansar a cabeça.
Assim como Leminski, “Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é, ainda vai nos levar além”. Virginia foi além do que é sem nunca partir, apenas remando a navegar com o vento do seu próprio moinho como dizia Cartola.
Ribamar Júnior, in lounge.obviousmag.org

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