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A
ideia de evolução parece-nos hoje tão evidente que é difícil
imaginar como o mundo surgiu sem ela. Darwin teve o mesmo destino de
Freud, que disse: “Espero que algum dia perguntem: o que havia de
tão especial nesse tal de Freud? Tudo o que ele disse era tão
óbvio.” Por outro lado (mais uma vez como Freud), quando as ideias
de Darwin são examinadas em profundidade, podem parecer totalmente
não-científicas ou até mesmo sem sentido. Em última análise,
“sobrevivência do mais forte” não significa senão
“sobrevivência do que sobrevive”.
De
uma maneira ou de outra, Darwin foi inegavelmente um dos poucos
pensadores a subverter a noção de como nos vemos e ao mundo que nos
cerca. Depois dele, as coisas jamais seriam as mesmas; e é um
caminho sem volta. Depois de Darwin, o homem deixou, para sempre, de
ser uma espécie privilegiada.
Darwin
surgiu ao final da revolução iniciada no século XVI com Copérnico.
A Terra orbitava em torno do Sol: não éramos mais o centro do
universo. Ainda mais significativo foi descobrir que as leis da
ciência vigoravam no céu. (Acreditava-se anteriormente que eram
válidas apenas na Terra.) Darwin completou sua revolução mostrando
como a ciência se aplicava à própria vida. Tudo era científico e
a humanidade não era mais centro de nada — apenas mais uma espécie
no processo evolutivo científico. No início, isso era inaceitável
e chocante. Solapava nossa própria ideia do que somos. Mas os seres
humanos são criaturas flexíveis. Os fatores genéticos que lhes
deram origem não passaram à toa por cinco bilhões de anos de
evolução. Ao contrário do que se previa, esse autoconhecimento não
nos reduziu a “autômatos científicos”. Assim como o homem que
nos colocou nessa situação difícil, continuamos “humanos,
demasiadamente humanos”.
Paul
Strathern, in Darwin e a evolução em 90 minutos
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