Tudo
é agora. Abramowicz, o singular sabor da morte, a ninguém negado,
que me será oferecido nesta casa ou do outro lado do mar, às
margens do teu Ródano, que flui fatalmente como se fosse esse outro
e mais antigo Ródano, o Tempo. Tua será também a certeza de que o
Tempo se esquece de seus passados e de que nada é irreparável, ou a
contrária certeza de que os dias nada podem apagar, e de que não há
um ato, ou um sonho, que não projete uma sombra infinita. Genebra te
acreditava um homem de leis, um homem de ditames e de causas, mas em
cada palavra, em cada silêncio, eras um poeta. Talvez estejas
folheando neste momento os diversos livros que não escrevestes, mas
que prefixavas e descartavas, e que para nós te justificam e de
alguma maneira são. Durante a primeira guerra, enquanto se matavam
os homens, sonhamos os dois sonhos que se chamaram Laforgue e
Baudelaire. Descobrimos as coisas que descobrem todos os jovens: o
ignorante amor, a ironia, o desejo de ser Raskolnikov ou o príncipe
Hamlet, as palavras e os poentes. As gerações de Israel estavam em
ti quando me disseste sorrindo: Je suis très fatigué. J'ai quatre
mille ans. Isto ocorreu na Terra; vão é conjecturar a idade que
terás no céu.
Não
sei se todavia és alguém, não sei se estás me ouvindo.
Jorge
Luis Borges, in Os conjurados
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