Luz
Marina Acosta era menininha quando descobriu o circo Firuliche.
O
circo Firuliche emergiu certa noite, mágico barco de luzes, das
profundidades do Lago da Nicarágua. Eram clarins guerreiros as
cornetas de papelão dos palhaços e bandeiras altas os farrapos que
ondeavam anunciando a maior festa do mundo. A lona estava toda cheia
de remendos, e também os leões, aposentados leões; mas a lona era
um castelo e os leões, os reis da selva. E uma senhora rechonchuda,
brilhante de lantejoulas, era a rainha dos céus, balançando nos
trapézios a um metro do chão.
Então,
Luz Marina decidiu tornar-se acrobata. E saltou de verdade, lá do
alto, e em sua primeira acrobacia, aos seis anos de idade, quebrou as
costelas.
E
assim foi, depois, a vida. Na guerra, longa guerra contra a ditadura
de Somoza, e nos amores: sempre voando, sempre quebrando as costelas.
Porque
quem entra no circo Firuliche não sai jamais.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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