Fico
grato por saber que os senhores gostaram de 4 dos poemas. É um
número de atacado, uma injeção de ânimo por um belo tempo
vindouro. Ou o campo da poesia está se abrindo, ou eu estou, ou
então ambos estamos. De todo modo, isso é legal, e eu preciso me
permitir um sentimento legal de vez em quando. […]
Quanto
a mim, devo parecer bastante velho para estar me lançando na poesia:
fiz 38 neste último 16 de agosto e me sinto, aparento e ajo como um
sujeito bem mais velho. Ando trabalhando com poesia nestes últimos
dois anos depois de um apagão de mais ou menos 10 anos, infligido
por mim mesmo, suponho, um período um tanto infeliz, mas que não
deixou de ter seus momentos. Não sou do tipo que lamenta o
desperdício desenfreado como perda total – há música em tudo,
até mesmo na derrota –, mas ir parar num leito de morte numa ala
de hospital meio que me desacelerou, me proporcionou aquela velha
pausa para pensar. Eu me vi escrevendo poesia: um estado dos diabos.
Eu havia, nos meus primeiros tempos, trabalhado com o conto, ganhando
um belo incentivo de Whit Burnett, descobridor de W[illiam] Saroyan e
outros e fundador da então famosa revista Story. Whit por fim
pegou uma – eu costumava lhe mandar 15 ou 20 histórias por mês, e
quando elas voltavam eu as rasgava – lá em 1944, quando eu tinha
24, era doce e fogoso. Emplaquei 3 ou 4 histórias na Matrix e
uma num periódico internacional da época chamado Portfolio,
e aí joguei mais ou menos tudo pela janela, até uns dois anos
atrás, quando comecei a escrever exclusivamente poesia. No primeiro
ano ninguém mordeu a isca, e aí fui publicado (e assim voltamos aos
dias atuais) por Quixote, Harlequin, Existaria, The Naked Ear, The
Beloit Poetry Journal, Hearse, Approach, The Compass Review e
Quicksilver. Tive trabalhos aceitos para futura publicação em
Insert, Quixote, Semina, Olivant, Experiment, Hearse, Views, The
Coercion Review, Coastlines, Gallows e The San Francisco Review.
A Hearse vai lançar um livreto de poemas meus Flower, Fist
and Bestial Wail no início do ano que vem... Frequentei o L.A.
City College quando era garoto e cursei uma aula de jornalismo, mas o
mais perto que já cheguei de um jornal é a cada 2 ou 3 dias, quando
folheio algum com um interesse bem mirrado. Voltei à escola noturna
lá cerca de um ano atrás e cursei algumas aulas de arte, comercial
e outras, mas aí, de novo, eles se moviam devagar demais para mim e
queriam obediência demais. Não tenho nenhum talento ou ofício
definido, e como consigo ficar vivo é em grande medida uma questão
de mágica. É mais ou menos isso – vocês podem tirar daqui as
poucas linhas das quais precisam.
Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer
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