segunda-feira, 18 de novembro de 2024

[Aos editores da Nomad] | Setembro de 1958


Fico grato por saber que os senhores gostaram de 4 dos poemas. É um número de atacado, uma injeção de ânimo por um belo tempo vindouro. Ou o campo da poesia está se abrindo, ou eu estou, ou então ambos estamos. De todo modo, isso é legal, e eu preciso me permitir um sentimento legal de vez em quando. […]
Quanto a mim, devo parecer bastante velho para estar me lançando na poesia: fiz 38 neste último 16 de agosto e me sinto, aparento e ajo como um sujeito bem mais velho. Ando trabalhando com poesia nestes últimos dois anos depois de um apagão de mais ou menos 10 anos, infligido por mim mesmo, suponho, um período um tanto infeliz, mas que não deixou de ter seus momentos. Não sou do tipo que lamenta o desperdício desenfreado como perda total – há música em tudo, até mesmo na derrota –, mas ir parar num leito de morte numa ala de hospital meio que me desacelerou, me proporcionou aquela velha pausa para pensar. Eu me vi escrevendo poesia: um estado dos diabos. Eu havia, nos meus primeiros tempos, trabalhado com o conto, ganhando um belo incentivo de Whit Burnett, descobridor de W[illiam] Saroyan e outros e fundador da então famosa revista Story. Whit por fim pegou uma – eu costumava lhe mandar 15 ou 20 histórias por mês, e quando elas voltavam eu as rasgava – lá em 1944, quando eu tinha 24, era doce e fogoso. Emplaquei 3 ou 4 histórias na Matrix e uma num periódico internacional da época chamado Portfolio, e aí joguei mais ou menos tudo pela janela, até uns dois anos atrás, quando comecei a escrever exclusivamente poesia. No primeiro ano ninguém mordeu a isca, e aí fui publicado (e assim voltamos aos dias atuais) por Quixote, Harlequin, Existaria, The Naked Ear, The Beloit Poetry Journal, Hearse, Approach, The Compass Review e Quicksilver. Tive trabalhos aceitos para futura publicação em Insert, Quixote, Semina, Olivant, Experiment, Hearse, Views, The Coercion Review, Coastlines, Gallows e The San Francisco Review. A Hearse vai lançar um livreto de poemas meus Flower, Fist and Bestial Wail no início do ano que vem... Frequentei o L.A. City College quando era garoto e cursei uma aula de jornalismo, mas o mais perto que já cheguei de um jornal é a cada 2 ou 3 dias, quando folheio algum com um interesse bem mirrado. Voltei à escola noturna lá cerca de um ano atrás e cursei algumas aulas de arte, comercial e outras, mas aí, de novo, eles se moviam devagar demais para mim e queriam obediência demais. Não tenho nenhum talento ou ofício definido, e como consigo ficar vivo é em grande medida uma questão de mágica. É mais ou menos isso – vocês podem tirar daqui as poucas linhas das quais precisam.

Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer

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