Sentados
à soleira tomam sol
velhos
negociantes sem fregueses.
É
um sol para eles: mitigado,
sem
pressa de queimar. O sol dos velhos.
Não
entra mais ninguém na loja escura
ou
se entra não compra. É tudo caro
ou
as mercadorias se esqueceram
de
mostrar-se. Os velhos negociantes
já
não querem vendê-las? Uma aranha
começa
a tecelar sobre o relógio
de
parede. E o sagrado pó nas prateleiras.
O
sol vem visitá-los. De chapéu
na
cabeça o recebem. Se surgisse
um
comprador incostumeiro, que maçada.
Ter
de levantar, pegar o metro,
a
tesoura, mostrar a peça de morim,
responder,
informar, gabar o pano…
Sentados
à soleira, estátuas simples,
de
chinelos e barba por fazer,
a
alva cabeça movem lentamente
se
passa um conhecido. Que não pare
a
conversar coisas do tempo. O tempo
é
uma cadeira ao sol, e nada mais.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar
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