Eu
sabia que a guerra no Golfo ia sobrar pra mira. O telefone me acordou
às cinco da manhã.
– Frank
falando.
Frank
é meu nome. Frank Drebin, tenente aposentado do Esquadrão de
Polícia, disposto a terminar seus dias, principalmente, de súbito.
– Frank,
aqui é o George Bush.
A
mania de fazer graça dos cariocas.
– Certo,
palhaço. Conta outra.
– É
sério, Frank.
– Ah,
vai pro caralho!
Uma
hora depois bateram no meu quarto. Um cara da CIA, velho conhecido do
Vietnã, reclamando que eu tinha ofendido o presidente dos Estados
Unidos da América. Me desculpei. Ele disse que eu receberia
instruções no dia seguinte, na filial Tijuca da Tele Rio. Não
estranhei. O Brasil é um país muito louco. Toda a minha vida fui
Mister isso e Mister aquilo, mas o ascensorista do hotel só me chama
de Pretinha, Minha Flor, Princesa...
Como
eles mesmos dizem: é de lascar!
Well,
passei outro vexame na tal loja. O gerente, um baixinho parecido com
o Ozires Silva, deu um berro assim que me viu:
– Oba!
Você deve ser o tal agente secreto, ou coisa que o valha! Tô com
uma fita pra você, gracinha!
Piscava
o olho de um jeito sagaz e me dava cotoveladas. Tinha “ordens
superiores” pra me vender um walkman. No táxi, a caminho do hotel,
aproveitei o engarrafamento pra ouvir a fita:
– Um,
dois, três, gravando! Tá no ar? “Tanto tiempo disfrutamos desse
amor”. Bela voz, não? Cantei no Sílvio. Teu recado é o seguinte:
procure um índio de cueca Zorba, assobiando o tema de P antanal, na
seção de importados do Paes Mendonça. Essa gravação se auto
destruirá em cinco seg - seg -seg - seg...
Tecnologia
brasileira. Graças ao defeitinho a geringonça explodiu nos meus
cornos. Tive queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus e fui
medicado no Pronto - Socorro do Andaraí, onde tu entra cajá e sai
caqui.
Cheio
de picrato de butezin, ossos do ofício, deixei o hospital e passei
em meu hotel. Levei o maior susto. Seis homens ensaiavam um seqüestro
no saguão, pro Globo Repórter. Pra não ser notado, dei seis tiros
numa senhora. Ninguém viu, o que é uma tradição nessa gente
bronzeada.
Não
achei outro táxi. Pra não perder a hora fui de chapa branca pro
Paes Mendonça. O índio tava lá. Resolvi improvisar. Um ligeiro
aceno de minha parte e o índio resmungou:
– Ugh!
E
eu:
– Hefner.
Ele,
de mau humor:
– Onde
eu perder as flechas?
E
eu, brilhante:
– Deep
in the heart of Texas.
Ele:
– Vai
pro caralho.
Fiquei
perplexo.
–What?
– Vai
pro caralho.
Tenho
certeza de que não havia nada disso nas minhas instruções. Quase
entrei em pânico. Aí, vi outro índio de cueca Zorba, assobiando o
tema de Pantanal, me fazendo sinais desesperados com uma latinha de
caviar.
É
um mundo pequeno.
Novas
ordens me levaram ao gabinete de segurança máxima do Tuma, em
Brasília. Uma sofisticada fortaleza, impossível de transpor se você
não tem os meios adequados. Um bunker à prova de falhas, apesar de
o entregador do Mister Pizza ter interrompido a reunião com duas
calabrezas. Começou a discussão pra saber quem tinha feito o
pedido. Saí pelos fundos. Tinha que voar com urgência pra São
Paulo. Durante o vôo, devido à tensão, me senti mal. Uma aeromoça,
filiada à CUT, ia passando na horinha.
–Young
lady…
– Tsk...
– Coffe,
please.
– Qualé,
babaca? Tá me achando com cara de garçon? Vai pro caralho!
Assim,
não há mulato inzoneiro que agüente.
Próximo
passo: eu precisava decifrar uma mensagem em código, durante uma
palestra do Mário Amato, na Fiesp, sobre economia de mercado. É
dose. Tava quase cochilando quando quatro capitães da Polícia
Militar, munidos de bombas de flit, começaram a jogar dados e a dar
umbigadas enquanto pisoteavam um japonês com um papagaio no ombro. A
mensagem era cristalina: “Não tem mosquito. Dados oficiais:
encontro às 4 P.M., na Baixa do Sapateiro, com um oriental. Senha:
Currupaco”.
Adoro
Salvador. Ia acender o terceiro baseado quando vi o japa. Cheguei de
fininho e mandei no ouvido dele:
– Currupaco.
Sei
que é chocante, mas o Tanaca me olhou do cabelo escovinha ao tênis
e disse:
– Vai
pro caralho!
A
última mensagem que recebi, antes de entrar pras Testemunhas de
Jeová, dizia que Saddam Hussein é mineiro de Goiabinhas e que eu
deveria, pra maiores esclarecimentos, localizar, a qualquer preço,
um compositor baiano parecido com Bob Marley.
Pera
lá, Pentágono! São mais de vinte mil! Vai pro caralho!
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo
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