Maldormidos,
nus, machucados, caminharam noite e dia durante mais de dois séculos.
Iam buscando o lugar onde a terra se estende entre juncos e taquaras.
Várias
vezes se perderam, se dispersaram e tornaram a juntar-se. Foram
virados pelos ventos e se arrastaram amarrando-se uns em outros,
golpeando-se, empurrando-se; caíram de fome e se levantaram e
novamente caíram e se levantaram. Na região dos vulcões, onde não
cresce erva, comeram carne de répteis.
Traziam
a bandeira e a capa do deus que tinha falado aos sacerdotes, durante
o sono, e tinha prometido um reino de ouro e plumas de quetzal:
Sujeitareis de mar a mar todos os povos e cidades, havia anunciado
o deus, e não será por feitiço, e sim por ânimo do coração e
valentia dos braços.
Quando
se aproximaram da lagoa luminosa, debaixo do sol do meio-dia, os
astecas choraram pela primeira vez. Ali estava a pequena ilha de
barro: sobre o nopal, mais alto que os juncos e as palhas bravas,
estendia a águia suas asas.
Ao
vê-los chegar, a águia humilhou a cabeça. Estes párias, apinhados
na margem da lagoa, imundos, trêmulos, eram os eleitos, os que em
tempos remotos tinham nascido da boca dos deuses.
Huitzilopochtli
deu-lhes as boas-vindas:
– Este
é o lugar de nosso descanso e nossa grandeza – ressoou a voz.
– mando que se chame Tenochtitlán a cidade que será rainha e
senhora de todas as demais. México é aqui!
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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