Apresentaram-me
a uma moça grega, que veio a Paris estudar cinema. Moça, digo, pela
idade aparente. Porque é casada. Senhora Kórax, ou Hiérax, ou
Skolópax; só sei que um nome de ave. Porém seu prenome é Ieoana.
De começo, brincou de não dizê-lo:
— ...
Ainda se fosse Fríni, ou Khlói, autênticos nomes helênicos...
— Cloé...
Frineia... Beijocleia...
— Que
diz? É em sua língua? É belo. Soa-me ainda mais grego…
.
. .
Mas
a vida, salvo seja, surpreende-nos. Ieoana, a amiga grega, de quem há
dias não sei, tem a ideia de chamar-me. Cilada: mal dou minha voz,
ela se põe de lá a falar, coisas impalpáveis, em seu fino idioma.
Desentendo; espero. E ela parola, parla, lala, gregueja, greciza,
verso ou prosa, sem pausa. De repente, pós um dual e um aoristo,
desliga. E, quando chamo, minha vez, não atende seu telefone.
Guimarães
Rosa, in Ave, Palavra
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