Demolido.
Umas duas noites bebendo esta semana. Tenho que admitir que não me
recupero tão rápido como antes. A melhor coisa de estar cansado é
que você não se sai (ao escrever) com nenhuma proclamação
extravagante e maluca. Não que seja ruim, exceto se isso se tornar
um hábito. A primeira coisa que se deve fazer ao escrever é salvar
seu próprio rabo. Se fizer isso, automaticamente será gostoso,
divertido.
Um
escritor que conheço está ligando para as pessoas, dizendo que
escreve cinco horas por noite. Imagino que tenhamos que ficar
maravilhados com isso. Claro, será que vou ter que repetir pra
vocês? O que interessa é o que ele está escrevendo. Será
que ele conta o tempo que fala ao telefone como parte de suas cinco
horas escrevendo?
Consigo
escrever de uma a quatro horas, mas a quarta hora se esvai em quase
nada. Conheci um cara que me disse uma vez: “Fodemos a noite toda”.
Não é o mesmo cara que escreve cinco horas por noite. Mas já se
encontraram. Talvez devam se alternar, trocar. O cara que escreve por
cinco horas fode a noite toda, e o cara que fode a noite toda escreve
durante cinco horas. Ou talvez possam foder um ao outro enquanto
outra pessoa escreve. Eu não, por favor. Que a mulher escreva. Se
houver uma...
Humm...
sabe, estou me sentindo um pouco idiota esta noite. Fico pensando em
Máximo Gorky. Por quê? Não sei. De certa forma, parece que Gorky
nunca existiu de verdade. É possível acreditar que alguns
escritores realmente existiram. Como Turgueniev ou D. H. Lawrence.
Acho que Hemingway está no meio do caminho. Ele estava lá de
verdade, mas não estava. Mas Gorky? Ele escreveu algumas coisas
fortes. Antes da Revolução. Depois da Revolução, sua obra começou
a empalidecer. Não tinha muito do que falar mal. É como os que
protestam contra a guerra, precisam de uma guerra para crescer.
Algumas pessoas se deram bem protestando contra guerras. E quando não
há uma guerra, elas não sabem o que fazer. Como durante a Guerra do
Golfo. Havia um grupo de escritores, poetas; tinham planejado um
enorme protesto contra a guerra, estavam prontos com seus poemas e
seus discursos. De repente, a guerra terminou. E o protesto estava
marcado para uma semana depois. Mas eles não cancelaram. Fizeram de
qualquer forma. Porque queriam estar no palco. Precisavam disso. Foi
algo como um índio fazendo a Dança da Chuva. Eu mesmo sou contra a
guerra. Era contra a guerra há muito tempo atrás, quando isto não
era nem mesmo uma coisa popular, decente e intelectual. Mas desconfio
da coragem e dos motivos de muitos dos que protestam contra a guerra
profissionalmente. De Gorky para isso, o quê? Deixe a cabeça
divagar, quem se importa?
Outro
bom dia no hipódromo. Não se preocupem, não estou ganhando todo o
dinheiro. Geralmente, aposto US$ 10 ou US$ 20 para ganhar ou, quando
acho que vou me dar muito bem, subo pra US$ 40.
Os
hipódromos confundem ainda mais as pessoas. Eles têm dois caras na
tv antes de cada páreo e falam sobre quem eles acham que vai ganhar.
Mostram as probabilidades de cada corrida. Assim como todos os
bookmakers, as barbadas e os serviços de apostas. Mesmo os
computadores não conseguem determinar os cavalos, independentemente
da quantidade de informações que é fornecida. Cada vez que você
paga alguém para dizer a você o que deve fazer, você é um
perdedor. E isto inclui seu psiquiatra, seu psicólogo, seu operador
da bolsa de valores, seu professor e seu etc.
Não
há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e
seguir em frente. Mas a maioria das pessoas fica paralisada de medo.
Elas têm tanto medo do fracasso que acabam fracassando. Estão
condicionadas demais, acostumadas demais que digam o que devem fazer.
Começa com a família, passa pela escola e entra no mundo dos
negócios.
Veja,
tenho alguns dias bons no hipódromo e, de repente, sei tudo.
Há
uma porta aberta para a noite e estou sentado aqui, congelando, mas
não vou me levantar e fechar a porta porque as palavras estão
fugindo e gosto demais disso para parar. Mas, merda, eu vou. Vou
levantar, fechar a porta e mijar.
Pronto,
já fiz. Ambas as coisas. Até pus um blusão. Velho escritor põe
blusão, senta, sorri para a tela do computador e escreve sobre a
vida. Seremos tão santos? E, meu Deus, você já pensou quanto mijo
uma pessoa mija durante toda a vida? O quanto ela come, caga?
Toneladas. Horrível. É melhor morrermos e sairmos daqui, estamos
envenenando tudo com o que expelimos. As malditas dançarinas, elas
também fazem isso.
Não
há cavalos amanhã. Terça-feira é um dia de folga.
Acho
que vou descer e sentar com minha mulher, ver um pouco da estúpida
tv. Estou sempre no hipódromo ou nesta máquina. Talvez ela goste
disso. Espero. Bem, aqui vou eu. Sou um cara legal, sabe? Descer.
Deve ser estranho viver comigo. É estranho pra mim.
Boa
noite.
Charles
Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio
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