sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Projetos

Dizia ele, consigo, passeando num grande parque solitário: — Como ficaria bonita, com um traje de corte, complicado e faustoso, descendo, através a atmosfera de uma bela noite, os degraus de mármore de um palácio, diante dos gramados e das fontes! Tem a naturalidade de uma princesa! Passando mais tarde numa rua, parou defronte a uma loja de gravuras e, descobrindo num cartão uma estampa representando uma paisagem tropical, tornou a dizer consigo: — Não! Não é num palácio que eu desejaria possuir minha amada. Não estaríamos em nossa casa. Além disso, as paredes cravejadas de ouro não deixariam lugar para pendurar o retrato dela. Nas solenes galerias, não há um canto para a intimidade. Lá, decididamente, é que eu deveria ficar para cultivar o sonho de minha vida.
E, sempre analisando com os olhos os detalhes da gravura, continuava mentalmente: — À beira-mar, uma bonita residência de madeira, cercada de todas essas árvores bizarras e luzentes cujos nomes esqueci... Na atmosfera, um perfume inebriante, indefinível. Dentro de casa, um aroma de rosa e musgo... Mais adiante, atrás de nossa pequena propriedade, extremidades de mastros balanceados pela maré... Ao redor, para além de nosso quarto iluminado por uma luz cor-de-rosa coada pelas cortinas, todo enfeitado de frescos cipós e de flores capitosas, com luxuosos banquinhos de rococó português, feitos de madeira pesada e escura, para ela sentar-se, calma e vaporosa, fumando um tabaco ligeiramente opiado, — para além da varanda, o gorjeio dos pássaros ébrios de luz e a algaravia das negrinhas... E, à noite, para servir de acompanhamento aos meus sonhos, o canto dolente dos instrumentos de música, das flautas melancólicas! Sim, na verdade, está lá o ornamento que procuro. Que posso fazer num palácio? E mais adiante, seguindo uma grande avenida, viu um simpático albergue, em cuja janela adornada de cortinas de chitas mosqueada estavam duas cabeças risonhas. Então, disse consigo: — É preciso que minha imaginação seja uma grande vagabunda para ir buscar tão longe o que está tão perto de mim. O prazer e a felicidade se encontram no primeiro albergue que aparece, no albergue do acaso, tão fecundo em volúpias. Um bom fogo, vasos vistosos, uma refeição passável, um vinho grosseiro e uma cama bem larga com lençóis um pouco ásperos, mas frescos... Que pode haver de melhor? Ao entrar em casa, à hora em que os conselhos da Sabedoria já não são abafados pelo burburinho da vida exterior, disse consigo: — Tive hoje, em sonho, três domicílios onde encontrei um prazer igual. Porque forçar meu corpo a mudar de lugar, se minha alma viaja tão depressa? E para que realizar projetos, se o projeto é em si mesmo um prazer suficiente?
Charles Baudelaire, in Pequenos poemas em prosa

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