quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Efeito de um homem sem qualidades sobre um homem de qualidades

Enquanto Ulrich conversava com Clarisse, os dois não tinham notado que a música atrás deles cessara. Walter foi até à janela. Não podia ver os dois, mas sentia que estavam perto do seu campo de visão. O ciúme o atormentava. Mas a embriagues vulgar da música sensual o chamou de volta. O piano às suas costas estava aberto como uma cama desalinhada por alguém que não queria acordar para não ter de encarar a realidade. O ciúme de um paralítico que sente os homens sadios andando o atormentava, e ele não conseguiu ir juntar-se aos dois; pois sua dor não lhe dava oportunidade de defesa.
Quando Walter se levantava de manhã e tinha de correr ao escritório, quando falava com pessoas durante o dia, e quando à tarde ia para casa no meio delas, sentia que era um homem importante, com vocação para coisas especiais. Então pensava ver tudo de outro modo; impressionava-se com coisas pelas quais os outros passavam sem notar, e quando outros pegavam alguma coisa sem muita atenção, para ele o simples movimento do próprio braço estava cheio de aventura intelectual ou de uma contemplação narcisista. Era sensível, e sua alma estava sempre repleta de devaneios, depressões, vales e montanhas ondulantes; nunca estava indiferente, mas via em todas as coisas felicidade ou desgraça, e por isso sempre tinha motivo para ideias agitadas. Pessoas assim exercem uma atração especial sobre outras, porque o movimento moral no qual estão constantemente empenhadas se comunica aos demais; em suas conversas tudo assume um significado pessoal, e como no contato com elas podemos nos ocupar ininterruptamente com nós mesmos, elas nos dão um prazer que de outro modo só obtemos com um psicanalista ou psicólogo individualista, em troca de altos honorários, e ainda por cima com a diferença de que com eles nos sentimos enfermos, enquanto Walter ajudava as pessoas a se sentirem muito importantes, e por razões que até aí elas haviam ignorado. Com essa qualidade de instigar o interesse das pessoas por elas mesmas ele também conquistara Clarisse, e com o tempo tirara do caminho todos os concorrentes; como tudo se lhe tornava movimento ético, ele sabia falar persuasivamente sobre a imoralidade do ornamento, sobre a higiene das formas lisas e o bafo de cerveja da música wagneriana, segundo o novo gosto artístico, e até seu futuro sogro, que tinha o cérebro de pintor de uma cauda de pavão, se assustava com isso. Portanto, sem dúvida Walter tivera seus sucessos.
Apesar disso, assim que chegava em casa, cheio de impressões e planos que talvez estivessem maduros e novos como nunca antes, sofria uma transformação desanimadora. Bastava colocar uma tela num cavalete, ou deitar papel sobre a mesa, e começava uma terrível debandada em seu coração. Sua cabeça continuava clara, e o plano lá dentro pairava ainda no ar transparente e nítido, sim, o plano se dividia, se transformava em dois ou mais planos, podendo lutar entre si pelo primeiro lugar; mas a ligação entre a cabeça e os primeiros movimentos necessários para realizar o que pretendia parecia cortada. Walter não conseguia mover um dedo.
Simplesmente não se levantava do lugar onde estava sentado, e seus pensamentos escorregavam da tarefa que se propusera como se fossem neve que derrete ao cair. Ele não sabia como o tempo passava, mas antes que notasse chegava a noite. Como depois de algumas dessas experiências já viesse com medo para casa, começaram a alinhar-se semanas inteiras num desolado entressono.
Retardado em todas as suas decisões e movimentos pela falta de perspectivas, ele sofria de amarga tristeza, e sua incapacidade se tornava uma dor que se aninhava atrás de sua testa como uma hemorragia nasal, sempre que ele queria decidir-se a fazer alguma coisa. Walter era medroso, e os fenômenos que percebia em si mesmo não só o prejudicavam no trabalho, mas também o assustavam muito, pois aparentemente eram tão independentes de sua vontade que muitas vezes lhe davam a impressão de serem o começo de uma desagregação mental.
Mas, enquanto no último ano seu estado piorava sempre mais, ele encontrara uma maravilhosa ajuda num pensamento que outrora nunca apreciara muito. Esse pensamento era que a Europa, na qual era obrigado a viver, estava inapelavelmente degenerada. Em épocas em que as coisas vão muito bem externamente, enquanto por dentro sofrem aquele retrocesso que provavelmente todas as coisas sofrem — também a evolução intelectual quando não lhe dedicamos esforços especiais e novas ideias — a questão mais importante deveria ser: o que se pode fazer contra isso? Mas a confusão de inteligente, ignorante, vulgar e belo fica tão densa e enovelada nessas fases, que obviamente parece a muitas pessoas muito mais fácil acreditar num mistério, falando assim da decadência irrefreável de qualquer coisa que foge a um julgamento exato, e é de uma solene nebulosidade. E, no fundo, é indiferente se essa coisa é a raça, o vegetarianismo, ou a alma. Pois como em todo o pessimismo saudável, pretende-se apenas ter algo inelutável em que se agarrar. Também Walter, embora em anos melhores tivesse podido rir dessas ideias, logo compreendeu suas grandes vantagens quando começou a adotá-las pessoalmente. Se até ali fora ele o incapaz, sentindo-se mal, agora a época é que era incapaz, e ele saudável. Sua vida, que não levara a nada, de repente ficou inteiramente explicada, obteve uma justificativa de dimensões seculares, digna dele; sim, assumia até um ar de grande sacrifício quando pegava o lápis ou a caneta na mão, largando-os logo a seguir.
Mas Walter ainda lutava consigo mesmo, e Clarisse o torturava. Não queria participar de conversas criticando a sua época, e acreditava cegamente na genialidade. Não sabia o que era isso; mas todo o seu corpo começava a tremer e retesar-se quando se falava nela; é algo que se sente ou não se sente, era a sua única prova. Para Walter, cia continuava a menina cruel dos quinze anos. Nunca entendera inteiramente os sentimentos dele, nem ele a conseguira dominar. Mas por mais fria e dura que fosse, e em outras ocasiões tão entusiasmada, com sua vontade cheia de fervor sem substância, possuía uma misteriosa capacidade de influenciá-lo, como se através dela viessem golpes de algum lugar que não cabia nas três dimensões do espaço. Às vezes, isso era sinistro. Ele o sentia especialmente quando tocavam piano juntos. Clarisse tocava de maneira dura, inexpressiva, obedecendo a uma lei de excitação estranha a ele; quando os corpos ardiam até se perceber de fora o brilho das almas, aquilo passava dela para ele, c era assustador. Algo indefinível se desencadeava dentro dela, e ameaçava sair voando junto com a sua alma. Vinha de alguma caverna secreta do ser, que era preciso manter medrosamente trancada; ele não sabia do que se tratava, nem porque o sentia; mas a coisa o atormentava com um medo indizível e a necessidade de combatê-la, o que não conseguia, pois ninguém senão ele notava coisa alguma.
Vendo através da janela que Clarisse voltava, ele tinha vaga consciência de que mais uma vez não resistiria à necessidade de falar mal de Ulrich. Este voltara num momento errado. Prejudicava Clarisse. Piorava dentro dela aquilo de que Walter não se atrevia a chegar perto, a caverna do mal, aquela genialidade pobre, doente e maldita de Clarisse, o secreto espaço vazio onde aquela coisa sacudia as correntes que um dia poderiam ceder. Agora ela estava diante dele, cabeça descoberta, acabara de entrar e trazia na mão o chapéu de jardim, e ele a contemplou. Os olhos dela estavam irônicos, claros, ternos; talvez um pouco claros demais. Por vezes ele sentia que ela tinha uma força que lhe faltava. Como um espinho que não o deixava em paz: assim ele a sentira quando menina, e obviamente nunca a quisera de outro modo; talvez fosse esse o segredo da vida dele, que os outros dois não entendiam. “Profundas são nossas dores!” pensou. “Acho que não é frequente duas pessoas se amarem tanto como nós temos de nos amar.” E começou imediatamente a falar:
Não quero saber o que Ulo lhe contou, mas posso dizer que essa força que você tanto admira nele não é senão um vazio!
Clarisse olhou para o piano e sorriu; involuntariamente, ele voltara a sentar-se junto do piano de cauda aberto. E prosseguiu:
Deve ser fácil ter sentimentos heroicos quando por natureza se é insensível, e pensar em quilômetros quando não se sabe que plenitude pode ocultar-se em cada milímetro! — Às vezes o chamavam de Ulo, como tinham feito na infância, e ele gostava, como se conserva pela babá um respeito risonho.
Ele parou em ponto morto! — prosseguiu Walter. — Você não nota isso; mas não pense que eu não o conheço!
Clarisse duvidava. Walter disse, veemente:
Hoje em dia está tudo em ruínas! Um abismo de inteligência! Ele também tem inteligência, admito isso; mas nada sabe do poder de uma alma. O que Goethe chama de personalidade, o que Goethe chama de ordem móvel, disso ele não tem ideia: “Esse belo conceito de poder e limites, de arbitrariedade e lei, de liberdade e medida, de ordem móvel...”
Os versos brotavam em ondas de seus lábios. Clarisse olhou aqueles lábios com espanto amigável, como se tivessem feito voar algum lindo brinquedo. Depois caiu em si e interveio, como uma dona de casa:
Você quer cerveja?
Sim, por que não? Sempre tomo uma cerveja.
Mas não tenho nenhuma em casa.
Pena você ter me perguntado — suspirou Walter. — Talvez eu nem tivesse pensado nisso.
Com isso a questão estava encerrada para Clarisse. Mas Walter se descontrolara, não sabia mais como continuar.
Ainda se lembra da nossa conversa sobre o artista? — perguntou, inseguro.
Qual?
Faz alguns dias. Eu lhe expliquei o que significa um princípio vivo de forma numa pessoa. Não se lembra de como cheguei à conclusão de que antigamente, em vez de morte e mecanização lógica, devem ter reinado sangue e sabedoria?
Não.
Walter ficou inibido, procurou, hesitou. De repente, explodiu:
Ele é um homem sem qualidades!
O que é isso? — perguntou Clarisse, com uma risadinha.
Nada. Esse é que é o problema!
Mas Clarisse ficara curiosa com aquela expressão.
Hoje há milhões assim — afirmou Walter. — É essa a raça que nossa época produziu! — A expressão imprevista também lhe agradara; como se começasse um poema, ela o impelia adiante, antes mesmo de ele ter encontrado seu sentido.
Olhe só para ele! O que pensaria que é? Parece um médico, um comerciante, pintor, ou diplomata?
Mas ele não é nada disso — respondeu Clarisse, lúcida.
Bom, acaso ele parece um matemático?
Não sei, pois não sei como se parece um matemático!
Muito acertado! Um matemático não tem cara de nada; isto é, ele vai parecer tão inteligente, de modo tão geral, que isso não terá nenhum sentido determinado! Com exceção dos padres católicos romanos, hoje em dia ninguém mais parece como devia ser, pois usamos nossas cabeças de maneira ainda mais impessoal do que nossas mãos; mas a matemática é o ponto culminante, ela sabe tão pouco a respeito de si mesma como, quando um dia comerem pílulas em vez de carne e pão, as pessoas haverão de saber a respeito de campos, vitelas e galinhas! Entrementes, Clarisse colocara na mesa a frugal refeição da noite, e Walter comia com vontade; talvez isso lhe tivesse inspirado aquele exemplo. Clarisse ficou olhando os lábios dele. Lembravam os de sua falecida mãe, eram lábios femininos, fortes, que comiam como quem executa algum trabalho doméstico, encimados por um bigodinho aparado. Os olhos dele brilhavam como castanhas recém-descascadas, embora estivessem apenas procurando um pedaço de queijo na travessa. Apesar de pequeno, e de corpo antes mole do que delicado, Walter era daquelas pessoas que sempre parecem estar sob uma luz favorável. Ele continuou a falar.
Não se consegue adivinhar nenhuma profissão pela aparência dele, mas por outro lado também não parece um homem sem profissão. Pense um pouco em como ele é: sempre sabe o que deve fazer; sabe olhar nos olhos de uma mulher; sabe refletir bastante sobre qualquer coisa a qualquer momento; sabe lutar boxe. É talentoso, cheio de vontade, despreconceituoso, corajoso, resistente, destemido, prudente. Não quero examinar isso em detalhes, acho que ele tem todas essas qualidades. Mas também não as tem! Elas fizeram dele aquilo que ele é, e determinaram seu caminho, mas não lhe pertencem. Quando fica zangado, alguma coisa nele ri. Quando está triste, rumina alguma coisa. Quando algo o comove, ele o rejeita. Qualquer má ação lhe parecerá boa em algum aspecto. É um possível contexto que vai determinar o que ele pensa de um assunto. Para ele, nada é sólido. Tudo é mutável, parte de um todo, de incontáveis todos, que provavelmente fazem parte de um supertodo, mas que ele absolutamente não conhece. Assim, todas as respostas dele são respostas parciais, cada um de seus sentimentos é apenas um ponto de vista, e para ele não importa o que a coisa é, e sim um secundário “como é”. Não sei se estou me fazendo entender.
Sim — disse Clarisse. — Mas acho isso tudo muito simpático nele.
Walter falara, manifestando involuntariamente cada vez maior aversão; o velho sentimento de infância de ser o amigo mais fraco aumentava o seu ciúme. Pois embora estivesse convencido de que Ulrich jamais realizara nada exceto algumas demonstrações de inteligência, não se livrava da secreta impressão de ter sido sempre inferior fisicamente. A imagem que agora dava do outro libertava-o, como se tivesse conseguido executar uma obra de arte; não era ele quem a criara de si mesmo; mas, ligadas à consumação misteriosa do início, as palavras se haviam enfileirado umas às outras, fora dele, e no seu interior libertava-se algo de que ele não tinha consciência. Quando terminara, reconhecera que Ulrich não significava senão essa substância dissolvida que hoje todos os fenômenos têm.
Você gosta disso? — indagou numa dolorosa surpresa. — Não pode falar a sério! Clarisse comia pão com requeijão; só conseguiu sorrir com os olhos.
Ora — disse Walter —, antigamente também pensávamos assim. Mas não se deve ver nisso senão um primeiro degrau! Uma pessoa assim não é pessoa! Clarisse terminara de comer.
Mas ele mesmo diz isso! — afirmou.
O que é que ele mesmo diz?
Ora, sei lá! Que hoje em dia tudo está dissolvido. Ele diz que agora tudo está em ponto morto, não só ele. Mas não acha isso tão ruim quanto você. Uma vez ele me contou uma longa história: se dissecássemos a natureza de mil pessoas, haveríamos de encontrar duas dúzias de qualidades, sentimentos, estruturas e assim por diante, que constituem todas essas pessoas. E se dissecarmos nosso corpo, encontraremos apenas água e algumas dúzias de substâncias nadando nela A água corre em nós como nas árvores, e forma os corpos dos animais como forma as nuvens. Acho isso muito bonito. Só não sabemos exatamente o que dizer de nós mesmos. Nem o que fazer — Clarisse deu uma risadinha.
Depois disso eu lhe contei que você passa dias pescando quando está de folga, deitado junto da água.
E daí? Eu gostaria de saber se ele aguentaria isso, ao menos dez minutos. Mas pessoas — disse Walter com firmeza — fazem isso há dezenas de milhares de anos, ficam olhando o céu, sentindo o calor da terra e não ficam analisando isso, como não ficamos dissecando nossa mãe!
Clarisse teve de rir novamente.
Ele diz que desde aqueles tempos as coisas se complicaram muito. Assim como na água, também nadamos num mar de fogo, numa tempestade elétrica, num céu de magnetismo, num pântano de calor e assim por diante. Mas tudo isso, sem sentir. Por fim restam apenas fórmulas. E não se pode expressar corretamente o que elas significam em termos humanos; só isso. Eu já esqueci o que aprendi no colégio, mas de alguma forma parece correto. E ele diz que se alguém hoje em dia quiser dizer “irmãos” aos pássaros, como São Francisco, ou você, não deveria pensar que é fácil, pois deveria também decidir-se a entrar num forno, saltar para a terra através do condutor de um bonde elétrico, ou escorrer para o canal através do esgoto!
Pois é! — interrompeu Walter. — Primeiro, os quatro elementos se tornam dúzias, e por fim simplesmente nadamos sobre relações, acontecimentos, fantasmas de acontecimentos e fórmulas, qualquer coisa que nem se sabe se é uma coisa, um fenômeno, um espectro de pensamento ou sabe-deus-o-quê! Então já não haverá diferença entre o sol e um fósforo, entre a boca e a outra extremidade do canal digestivo! A mesma coisa tem cem lados, o lado cem relações, cada uma com outros sentimentos anexos. O cérebro humano terá então dividido muito bem as coisas; as coisas, porém, dividiram o coração humano!
Ele se levantara de um salto mas continuava parado atrás da mesa.
Clarisse! — disse. — Ele é um perigo para você! Olhe, Clarisse, hoje em dia as pessoas precisam sobretudo de simplicidade, proximidade com a terra, saúde — e, sim, certamente, você pode dizer o que quiser — também de um filho, porque um filho nos liga à terra firme. O que Ulo anda lhe contando é desumano. Eu lhe asseguro, tenho coragem de, quando chego em casa, simplesmente tomar café com você, escutar os pássaros, passear um pouco, conversar com os vizinhos, deixar o dia terminar calmamente: isso é vida humana!
A ternura dessas imagens o aproximara lentamente dela; mas assim que instintos paternais começaram a se fazer ouvir de longe com sua doce voz de baixo, Clarisse ficou rígida. Seu rosto se fechou enquanto Walter se aproximava, e ela assumiu uma postura de defesa.
Quando ele chegou perto, irradiava uma cálida doçura, como um fogão de camponeses. Clarisse hesitou um momento naquele calor. Depois disse:
Nada feito, meu caro! — Pegou da mesa um pedaço de pão e queijo, e beijou Walter rapidamente na testa.
Vou dar uma olhada e ver se não há borboletas.
Mas Clarisse — pediu Walter —, nessa época do ano não há mais borboletas.
Ora, nunca se sabe!
Só o riso dela ficou no aposento. Ela se foi pelos campos com seu pedaço de pão e queijo; a região era segura, não se precisava de acompanhante. A ternura de Walter murchou como um suflê retirado prematuramente do forno. Ele deu um suspiro fundo. Depois, voltou a sentar-se ao piano, hesitante, e tocou algumas notas. Quisesse ou não, elas tornaram-se fantasias sobre motivos de óperas de Wagner, e no chapinhar dessa substância que jorrava descontroladamente, de que ele se privara nos tempos em que tinha orgulho, seus dedos rumorejavam e borbulhavam na torrente de sons. Não lhe importava que os ouvissem até longe! O narcótico da música paralisava sua medula e aliviava seu destino.
Robert Musil, in O homem sem qualidades

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